segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Um, dois, três, vou nascer outra vez.

Eu acho que é assim. Dói muito e custa e é feio e mau. Ficamos tristes e queremos hibernar, desaparecer, esquecer. Mas devagarinho vamos deixando a dor e o rancor para trás. E quando o coração está curado e nos distraímos, pumba, lá vem um novo amor. E que bom que é. Renascer.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

desapego - effusus #8

Cada um aceita o amor que acha que merece.
Ao escutar esta simples frase, dentro de mim, gerou-se uma confusão, como se naquelas palavras estivessem somados todos os dias dos últimos meses. Sem conseguir controlar, despertou-se, em mim, uma sensação dolorosa de não querer aceitar o que a realidade, há muito, teimava em mostrar. 
Contudo, naquele momento, abriu-se uma porta que me fez ver que há coisas que, impreterivelmente, passe o tempo que passar, não vão mudar. Há um tempo em que um ombro amigo já não chega e precisamos de um braço inteiro. Há um tempo em que as palavras deixam de fazer sentido e a falta de ações ganha uma importância fatal. Há um tempo em que é preciso parar de insistir no que não tem futuro, o mais difícil de saber é como o fazer. 
E, há um tempo, em que o silêncio passa a ser a maior arma de defesa. Silêncio. Silêncio. Agora sei que sentes a minha falta, mas não será demasiado tarde? Silêncio. Silêncio. O mais importante ficou dito quando permanecias aqui. Agora, nada mais do que silêncio. Até ao dia em que, finalmente, encontrar o que me faz bem e me livrar de ti. 
Até lá, tento não lembrar as memórias de quando te sentia em mim e encontrar milhares de silêncios teus que justifiquem a minha ausência em ti. 



sábado, 15 de fevereiro de 2014

Bem-querer - effusus #7

As palavras têm muito poder, entrega-se a elas sentimentos implicando pensar novamente nos momentos que foram vividos. Neste preciso instante recorro às palavras para iniciar um novo rumo aqui e nada melhor do que falar um pouco de ti e da nossa amizade. Há muito tempo que precisava desafogar-me sobre aquilo que tenho recebido da tua parte e tudo aquilo que te tenho dado ao longo destes anos. Posso estar umas semanas sem falar contigo e é sem aparente explicação que sinto uma vontade incessante de ter-te por perto, contar-te todas as minhas peripécias e ouvir tudo aquilo que tens sempre para dizer-me. Na realidade tu estás sempre por perto, no meu coração. Sinto-me sã e salva contigo, porque és uma das pessoas que posso realmente confiar e isso ultimamente é muito raro de encontrar, tens o dom de entender-me na perfeição, respeitando os meus defeitos e apreciando as minhas qualidades, tal como eu te respeito a ti. És um dos fogos que reacende o meu coração nas noites de tempestade e o ombro amigo que está sempre lá.

“A amizade é um amor que nunca morre” 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Amor - effusus #6

Uma flor basta para simbolizar uma estação do ano. Uma data basta para evocar uma época….quantos preceitos e axiomas dogmáticos são necessários para exprimirem o amor?
Sob o nome genérico de amor, quantas variedades do instinto? Quantas explosões de temperamento? Quantas satisfações de vaidade? 
Existem mil formas de o exprimir, mil formas de o sentir. O amor  não é apenas um impulso do instinto, é uma ciência da alma, a mais divina e a mais rara. É como se o amor fosse uma iniciação lenta, pela qual a alma se eleva à contemplação do mais puro infinito. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Se continuo ou se largo - effusus #5

Silêncio, é do silêncio do mundo que eu preciso, é do silêncio da vida que preciso, que quero sentir. Estou cansado de viver a correr, preciso de uma pausa, preciso de tirar as preocupações da cabeça, de deixar a mão à vida, deixar de lhe dar colo, fazer com que comece a andar por ela própria, pois fiquei cansado de ter de lhe dar apoio. Preciso de viver, preciso de sentir e com ela como fardo não conseguirei andar para a frente.

Não sei o que faço. Se continuo com ela ao colo e faço a minha vida, ou se a largo e me faço ao caminho.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

por em palavras o que a mente detém - effusus #4

«Do amor,

Um gole. Dois. Três. Quatro. Ah, este vinho. Bendita promoção. Visão turva. Noção das coisas - total. Cinco. Seis. «Isto está lindo, está». Saudades disto. Mas calma! Ainda não veio ao de cima o meu lado sentimental. Porque é que temos de ter um? A vida era tão mais simples sem ele.
Sete. Oito. Pensamentos - todos canalizados para a mesma coisa. A mesma pessoa. O álcool não engana, não me venham com tretas. Alguém se descai. Não sei como nem porquê. Que raios. Agora é que vão ser elas. «Ok, postura!». Não, tarde demais. Pronto, vamos lá falar sobre o assunto.
As perguntas surgem de todos os lados, atropelam-se. Não consigo responder a tudo. E nem quero. É demasiado complicado. Eles não sentem, não entendem. Se calhar até me julgam. Não parece. Apoiam-me!? Serão meus amigos de verdade? Saberão eles o que passo, a dor que sinto por saber das circunstâncias, por pensar nas circunstâncias. Já não me envergonho. Como poderia? Gosto dele. Não nego isso perante eles. Afirmo e reafirmo. Olham-me. Não sei se com pena ou admiração. Ou então perguntam a eles próprios se estarei louca. Não, meus amigos. Seria preferível? Estou apaixonada. Será mais grave? Sempre achei que sim.
A conversa prolonga-se, alonga-se. Todos procuram perceber porquê. Nem eu sei. Apesar de tudo, eu gosto. Gosto das coisas assim. Um pouco ou nada secretas. Surpreendentes. O vinho desaparece, à velocidade da luz. A noção das coisas começa a escapar-nos. E eu começo a ser ainda mais e mais sentimental.

Quem me dera. O que eu dava.... O que eu dava para o ter agora aqui. A beber este copo comigo, sei lá. Desde que o tivesse. Não tenho. Alguma vez o tive? Perguntas, outra vez. Não quero perguntas. Deixem-me falar. Deixem-me dizer que quero percorrer o mundo com ele. Só nós os dois. Sem os preconceitos patetas de quem não sabe que o que eu sinto não é menos, se calhar até é mais, do que o que sentem os jovens casais apaixonados e namorados. Parece parvo. E é. Adiante. Passo a noite a falar dele, a pensar nele. Abano ligeiramente a cabeça, o álcool está no auge do seu efeito. Nem assim. Eu aqui. Ele lá. Tantos quilómetros de distância e saber que já estivemos tão perto. Calma, amanhã ficará tudo bem melhor. Ou não. Os pensamentos continuam os mesmos. Sonhos. Planos. Tanta vontade de tudo e de tanto. Tanto dele comigo e em mim. Se pelo menos eu pensasse nisto só quando estou sobre o efeito do álcool. Se. Malditos se's. Gosto dele. Repito. Eles ouvem. Brindam comigo. Porque querem a minha felicidade. E a minha felicidade é, em parte, ele. Eu sei-o. Se fosse tão fácil assim.
Garrafas vazias, copos também. Mentes conscientes e inconscientes. Conscientes no amor. Do amor.
Amanhã é outro dia, pode ser que já não se lembrem de nada.»

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

eu vírgula feliz ponto - effusus #3

Calha-me a mim hoje. Sim, hoje sou eu que devo deixar aqui o meu effusus. O meu lado instável, desgrenhado, vasto. Derramado. Escolhi este dia e ri-me comigo. É o nosso dia, pensei. Agora já não. Agora este dia não é de ninguém, é apenas uma lembrança de que apenas os fins são certos. E, no entanto, não há nada de instável, desgrenhado ou vasto em mim. Nem tão pouco derramado. Só há eu. Tanto eu quanto seja possível. Muito mais eu do que alguma vez pensei ser possível. Eu vírgula feliz ponto. E no meio de tantos fins, confesso que há poucas coisas de que me orgulho, que me aquecem por dentro, que me fazem sentir eu. Lembro-me da minha madrinha me dizer, por entre capas, canções e lágrimas
- Tu foste e és Coimbra
E fui. E sou. Todos os dias desde que esta cidade me acolheu, sem querer saber os meus ontens, todos os dias desde que a minha casa deixou de me bastar. É certo que não sou já a mesma que aqui chegou há quase quatro anos, carregada de malas e sonhos. É difícil crescer. Não fosse o azul escuro e não o teria conseguido. Morreram esperanças e devaneios de infância, sonhos ingénuos e sem futuro. E mesmo sabendo que tudo tem um prazo de validade, há coisas que acabam por ficar entranhadas cá dentro, talvez até para sempre. Afinal de contas,
- És Coimbra 
Ainda assim, sei que um dia terei de refazer as malas, forçar as antigas memórias e os novos sonhos dentro delas. Direi adeus à cidade, a tal da saudade, e despedir-me-ei com um beijo. De boa noite, bom dia, bom fim. Bom recomeço. Um dia terei de dizer Calha-me a mim hoje. Eu vírgula feliz ponto.



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

effusus #2

Há vontade, ela tem-na. Ali, no bolso do casaco. Esqueceu-se de que a tinha guardado lá. Ou esqueceu ou decidiu não lhe mexer mais, pelo menos por agora. Caminha lentamente, cabeça baixa, ombros para trás, e um fio de cabelo sempre a cair-lhe do apanhado. É Inverno, as árvores estão nuas e o nariz gelado. O céu, cinzento, ameaça chuva. Nela já chove há algum tempo. Não o suficiente, parece-lhe. E ao mesmo tempo, quer voar. Mas o vento é demasiado forte e ela ainda não tem asas. Se, por um momento, pusesse a mão no bolso, a vontade tocar-lhe-ia os dedos e espalhar-se-ia por todo o seu corpo. E o sol virá, se ela o chamar.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

alguém me observava constantemente da janela - effusus #1

era noite e vagueava. por entre rasgos de sombra, tinha a impressão de que alguém me observava constantemente da janela. tinha sempre essa impressão quando vagueava pela noite. fosse qual fosse a rua, a sombra e o odor.

envergonhado, talvez, pela atenção, disputava com a escuridão um lugar à sombra, que se desenhava como um esquisso de manchas, deambulando pelo chão e pelas paredes. é tarde, enzonavam as coisas, já devias estar em casa. e eu pensava que elas falavam de mim, sem saberem que não tinha casa. enquanto alguém me observava constantemente da janela.

escondia-me por detrás de dois caixotes e cobria-me com o pano velho que encontrara no lixo. adormecia sempre ali, sob o olhar inócuo de alguém que me observava constantemente da janela.

dormindo, era eu próprio, de volta a casa, em criança, olhando constantemente da janela, sonhava ser astronauta. sorria, como se o sonho fosse a concretização dele próprio, e olhava com desalento um sem-abrigo, vagueando pela noite e entre as sombras. eventualmente, acordava. desolado. que o sono era o meu único refúgio de um mundo que me afastara da infância. e alguém me observava constantemente da janela.

nunca cheguei a saber quem era, nem qual a janela de onde me via. nunca cheguei a saber se tinha nome ou idade. nunca cheguei a saber o que fazia do outro lado da janela. mas havia um desconsolo no seu olhar, por ser o meu, quando olhava demoradamente as estrelas.

e havia alguém que me observava constantemente da janela. e era sempre o mesmo alguém, sempre da mesma janela.

sentia pena de mim, sonhava ser astronauta.