Apanharam-me distraída e empurraram-me para o mundo dos adultos. Eu não queria, bati o pé e fiz birra mas quando dei por mim já tinha passado a porta. E não havia volta a dar. Tentei organizar-me e aprender a lidar com este novo universo. Sempre ouvi dizer que não era mau de todo. Resolvi dar-lhe uma oportunidade. Mas no meio das inúmeras conversas em salas de fumo - porque é a única altura em que se pode efetivamente conversar - comecei a perceber que a adultice não difere assim tanto dos tenros anos da adolescência. Sim, agora tinha um horário das nove às cinco e nem conseguia pensar em ir beber uns copos ao final do dia. Estava exausta. Mas, fora isso, depressa fui percebendo que os problemas e os dramas não vão a lado nenhum. Aquelas parvoíces tão típicas dos adolescentes, que levam logo a um "não te preocupes, é só um miúdo, não tem noção do que é a vida" afinal não vão a lado nenhum. A diferença é que agora as conversas têm palavrões como divórcio, separação, sogros, filhos e custódia. Mas continua tudo igual, as pessoas continuam a portar-se como crianças só que agora, no fim, quando tudo falha, é tudo maior. Dói mais. E, no meio das pausas para fumar, sussuram-se confidências como "Dei-lhe sete anos de mim, Inês". E eu encolho-me na minha meninês, nunca vivi nada assim, não tenho direito a falar. Mas, quando chego a casa e dispo a pessoa crescida que ando a fingir que sou, não consigo acreditar nisso. Com ou mais experiência de vida e ainda que pertencendo a mundos diferentes, parece que andamos todos à procura do mesmo. Parece que vamos andar sempre todos à procura do mesmo. Alguém que nos agarre quando o dia chega ao fim e nos aqueça os pés na cama. E isso eu até percebo.
Mas de repente tenho medo, tenho muito medo. Vejo a minha vida a passar-me à frente e não a quero, não quero passar o resto dos meus dias entre corações partidos. Não quero que me partam mais o meu.
Mas de repente tenho medo, tenho muito medo. Vejo a minha vida a passar-me à frente e não a quero, não quero passar o resto dos meus dias entre corações partidos. Não quero que me partam mais o meu.
Mas a verdade é que esta não sou eu. Nunca tive medo de viver. Não é agora, na pequenez dos meus vinte e dois anos, só por achar que espreitei a infinidade de dores de cabeça que aí vêm, que vou passar a ter medo. E lá está, nos meus poucos anos e na minha pequena experiência, houve algo que percebi. Pode custar quando as coisas acabam, mas também sabe muito bem enquanto duram. Mesmo muito bem. E assim vale sempre a pena.
No fim sei sempre dar a volta. Sou sempre feliz. E hei-de tentar até ao fim.