terça-feira, 29 de setembro de 2009

(antes de mais, este texto é insano, e foi escrito para tudo menos para fazer sentido. de qualquer forma, fica aqui.)

ela, jovem e comprometida, e ele, menos jovem por comprometer. nela douravam os cabelos loiros como tardes primaveris, nele se destacava a pele clara, onde o inverno se transformara. cruzaram-se por ventura no funeral dum pobre coitado, que lhe valeu o destino, de peripécias recheado! e em tal ambiente de luto, os dois jovens se encontraram, atrás da mortuária, os primeiros amores trocaram:

"rapariga, pára de me beijar assim, se o teu noivo descobre, dá cabo de mim!"

"e que te importa, rapaz? o que está feito não é de voltar atrás."

e os dias passaram, enquanto ela contava pelos dedos da mão, ele gravava saudade no seu coração. desconfiado, o noivo da donzela investigou, e os seus mais secretos conhecimentos usou. e quem diria, amigos meus, quem diria, de quem a culpa seria? esse sacristão malvado, que por 2 contos de rei, desgraçou o destino do casal enamorado! enfurecido mas perspicaz, o noivo traído elabora um plano mordaz! passam os dias, e chega-se domingo, a alegria da missa e as tardes no pingo! acorda excitada a donzela pecadora, e sem perder um segundo, penteia as tardes primaveris até ao fundo. óh, belos cabelos lembraram o jovem, que fez a barba como um verdadeiro homem. ao chegarem à igreja, os olhares trocaram, e em suas apaixonadas cabeças, logo magicaram!foi o triste do noivo quem não achou engraçado, que se preparou para activar o plano traçado. ao tocarem os sinos disse ela:

"amor meu, deixa-me ir ali, isto de ser mulher faz-me imenso xixi!"

"vai queridinha, vai lá meu coração." (e mal sabia ela que este xixi ia dar confusão...)

ao chegar à mortuária, diz-lhe o amante com excitação:

"vem comigo minha flor, que aqui está calor!"

"vamos rápido minha maçãzinha, que vem ali uma vizinha!"

e com uma corrida e umas risadas, estavam finalmente de mãos dadas. ai, que saudades! apertaram-se e beijaram-se, como se não houvesse amanhã, ela, jovem flor, e ele - a maçã. de repente ouviu-se um grito, ficou logo tudo aflito:

"SUA TRAIDORA, e eu apaixonado por uma sem-vergonha pecadora!" (disse o noivo agitado)

"amorzinho, isto não é o que parece! é uma confusão da tua cabeça, esquece!"

"mas por quem me tomas, minha rameira? um como esse, à tua beira?"

e com tal escabeche, juntou-se uma multidão: eram homens e mulheres, o padre e o sacristão.

"valha-nos jesus cristo, que ninguém esperava isto!" (diziam as velhas)

e sem tempo para acabar, o noivo saca de uma arma e toca a disparar! vejam lá o azar, entre estes despejos de loucura, no jovem apaixonado acabou por acertar! óh triste destino, não são fados justos para um jovem menino! vista esta desgraça, a donzela deu em chorar, e sem se aperceber do estrago, o noivo continuava a gritar. que horror, não queiram imaginar, quem tenha estômagos fracos, é melhor nem pensar. morto e avermelhado, jazia o amante no meio do chão, e a pobre donzela, com as mãos no coração!

"mata-me a mim também" disse a moça sem hesitar "sem este meu amor, nem vale a pena continuar!"

"mas eu amo-te meretriz, ainda te deixo voltar, desde que me prometas, claro, que não te voltas a deixar levar" (disse o noivo, também ele a chorar)

incompreendida e cheia de dor, olhou em seu redor. tudo muito assim-assim e uma tesoura para podar o jardim. sofredora e apaixonada, correu para o objecto, e num golpe só - ZÁS! - matou-se a tresloucada. toda a freguesia contemplou tal acontecimento, e poucos eram os que acreditavam no que viram no momento. era deste amor fatal, os livros que o senhor emanuel vendia, na rua principal. e jazem ainda hoje, os eternos amantes num túmulo bonito cheio de velas brilhantes.

(e dizem vocês: morreram estes dois... mas e então o noivo? esse morreu atropelado, por uma carroça dos bois, uns dias depois.)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Reflexos de sentimento


Vagabundo olha o azul céu
Escuta atentamente o eco que soa
Enquanto cobre o seu rosto com um véu

O eco que se encontra a escutar
É a voz de culpa, mágoa interior
O véu que faz o rosto apagar
Faz-lhe amenizar o passado, a dor


Quando ao espelho se olha
Revela negro, triste e vazio olhar
E, quando consegue vê-la
Vê também, numa luz desvanecida
A sua mulher, em seu coração perdida
Naquele corpo sujo, suavemente a tocar

Ela humedece-lhe os lábios
Olha-o nos olhos e dá-lhe a mão
Murmura-lhe, ao ouvido, versos sábios
Os que só na voz dela assentam bem
Os escritos pelas lágrimas, no coração

Lágrimas que lhe humedecem os lábios
Quando ao espelho, ele não a pode ver
Lágrimas que lhe dão voz para soluçar
Tais versos que nela eram o maior poder

E nesses momentos, abandonado
Palavra a palavra o podemos escutar
A ler o que está escrito no seu coração
Como se ela ainda estivesse ao seu lado
Pronta para o beijar e agarrar-lhe na mão

Sem retorno


Gosto muito de ti.

Fim da história.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009





Ele é um ponto de interrogação na minha vida. Esteve presente até aos meus 12 anos, indo eu ter com Ele todos os domingos.
Via-o como alguem gigante que brincava conosco como fossemos marionetas, e nós, sempre mantendo a postura. Um por outro lá se estragava e ia para o lixo : era a morte !
Sempre tentei visualizar o mundo de forma a que Ele estivesse do meu lado, sempre tentei ver como seria quando a minha carreira de personagem de marioneta acabasse: será que depois do lixo há ainda a hipotese de ser recomposta e ser posta novamente em cena ? Mesmo que desta vez numa nova personagem ?
Ele abandonou-me, deixou-me sem me esclarecer sobre o mundo e os constituintes.
Ele entrou em coma, assim como o mundo, e nós andamos a dar cabo uns dos outros.
Onde estás Tu ? Porquê me deixaste ? Ou será que nem nunca comigo estiveste realmente ?
Daqui 15 anos, estaremos todos a terminar a nossa carreira.
Adeus marionetas .

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Amores de uma vida

O amor das nossas vidas vem sempre para ficar. Desarruma tudo, rouba tudo, sapatinha tudo. O amor das nossas vidas é um filho da mãe dos piores e deixa-nos sempre de joelhos no chão suado, cabelo espigado e olheiras de noites passadas em branco. O amor das nossas vidas é mesmo assim e não pode ser de outra forma porque, se o fosse, não o era. Passo os dedos pelo cabelo afastando pequenos cachos da frente dos olhos. Dou meia volta, ponho as mãos dentro dos bolsos das calças de ganga clara e abandono a cabeça para trás até encontrar a parede. Fecho os olhos e ouço os carros lá fora, a agitação natural da cidade apressada. Penso em ti. Penso muito em ti. Vi-te e tu viste-me. Vi o teu sorriso e tu viste o meu, sorrisos que não eram a nós dirigidos, que disfarçavam palavras entaladas e lágrimas sufocadas, sorrisos de circunstância, gestos que sobravam daqueles que nos acompanhavam. Sorriso teu que eu tenho decorado em mim como quem deixa uma cassete a gravar para nunca perder aquele episódio inesquecível. E há um fosso entre nós, uma muralha. E não te posso ouvir e tu não me podes tocar. E o meu coração torna a descompassar, a gritar e a rasgar veias e artérias. E vejo-te ir, como vejo sempre, porque tu não foste feito para ficar, para permanecer. Vejo-te abandonar o alcance dos meus olhos, provavelmente atrás de um amor da tua vida a part-time, alguém que, ao contrário de mim, se sujeite a horas vagas, a horas gastas.
O meu querer de ti é transcendente, é desumano e irracional, é proibido e insano, é alcoólico e irreversível. Enervo-me muito, sacudo a cabeça e aperto os olhos. O amor da minha vida não devias ser tu e eu não devia estar agora de joelhos pelo chão suado, não devia ter o cabelo espigado e olheiras de noites em branco. O amor da tua vida não sou eu, não é ninguém. Suspiro de alívio. Chama-me egoísta mas, ao menos assim, posso culpar o teu atraso emocional e não o meu amor próprio.
Os amores das nossas vidas, se não nos servem, deviam eclipsar-se do nosso coração e não ficar no lugar das memórias vivas, das memórias diárias.
O amor das vossas vidas não devia ser como o meu.

terça-feira, 22 de setembro de 2009


Eu não sei quem sou.
Não sei quem sou, porque não sei quem são vocês.
Olham-me com desdém só porque a minha mentalidade não colabora com as vossas. Se a minha pede massa a vossa pede batatas, se a minha quer água a vossa quer vinho, se a minha quer verdade a vossa quer mentira. Ninguém é o que julga ser nem ninguém é o que os outros dizem. Então o que somos ? Nada, limitamo-nos a achar-nos algo, mas nunca somo nada em concreto.
Ninguem nos conhece nem nós conhecemos ninguem.

So queria voltar a ser criança,
onde era o que era e sabia que era,
e todos sabiam que eu assim era.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Dantes dizia-te:

Sentimos todo aquele chão a cair sobre nós; a parede forrada de novelos de lãs onde as cores são ofuscantes ao nossos olhos. A luz está meia ligada, e o candeeiro faz rodopios de sensações em espiral. Nós sorrimos, um pouco embriagados pelo sabor da noite. Deixamo-nos levar pelo momento e contamos histórias de embalar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Browny

março de 1998, tinha seis anos, quase sete, tu chegaste.
trazias contigo vida. uma vontade de correr e destruir tudo.
desde aquele primeiro olhar, tu ainda sem nome junto da tua irmã gémea, sempre te amei.

obrigado pelas conversas de tardes inteiras em que me ouvias sem me largar um só momento.
obrigado pelas vezes em que me ficavas a olhar enquanto te falava e me lambias as lágrimas que chorava.
obrigado pelas corridas juntos, pelos meus sorrisos, pela tua cauda a abanar, pelas noites em que assustado pela trovoada te metias na cozinha (e algumas vezes no meu quarto), pelas vezes em que me acordaste a meio da noite ou nem deixaste adormecer, pelas vezes em que fugiste e voltaste sozinho, pelas vezes em que me defendeste, pelas vezes em que saltaste para me atirar ao chão, pelas nossas brincadeiras juntos, por tudo.
é impossível descrever tudo o que passámos juntos,
foste e és como um irmão, mais novo e mais velho.
obrigado por teres estado sempre ao meu lado.

o boggy ainda está a uivar, lá fora.

ergam-se os ventos e as tempestades e desabe o mundo,
nunca hão-de levar-te de mim.

março de 1998, entraste na minha vida.
onze de setembro de 2009, permaneceste (no coração e junto à raiz da macieira).

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Terra infértil

Hás-de ficar solteiro toda a vida. O teu estado nunca muda. Deixemo-nos ficar no atrasado emocional. E quando olhares para trás, quando a vida já te tiver passado pelos olhos e pelo corpo agora amadurecido e velho, sentirás o coração amarrotar de vazio, vazio que semeaste como quem espera colher trigo dourado. E quando olhares para trás perceberás que perdeste corações cheios, a transbordar de amor por ti. E será tarde, muito tarde porque nada cresce em terra seca. E quando eu olhar para trás, quando a vida já me tiver trazido uma grande árvore de fruto, olharei para ti e dir-te-ei ainda com bocados de espinhos cravados na alma, que era eu esse coração a transbordar de chamamentos. O mesmo coração que assassinaste no rodopio desse vazio infértil. O teu estado nunca muda e, quando mudar, vai ser tarde, muito tarde, e já terás perdido cascatas de oportunidades para encher a tua vida.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

esquecimento

viste passar na minha face, uma atrás da outra,
as lágrimas que os teus gestos se esqueceram de chorar.
viste-me arrancar do meu peito, com as mãos,
um coração que o teu se esqueceu de amar.

e ficaste calada,
até que venha o vento forte que me levará para longe
para me esqueceres.

por enquanto, o vento é só uma brisa,
que me envolve e devolve ao teu pensar.

domingo, 6 de setembro de 2009

Grave

Dizer que te conheço no escuro, no meio da multidão, é grave. Eu ainda não te esqueci. Ainda sei como te apoias no pé direito de braços cruzados, ainda sei as formas do teu rosto quando sorris e de como levantas o olhar por cima da minha cabeça quando o fazes. Ainda sei do charme que te transpira do corpo, do fumo que travas desenvolvendo cancros dentro do teu organismo. Cancro és tu em mim. Ainda sei de como te sirvo para as horas vagas, quem sabe se duas noites por mês. Ainda sei do teu andar e do choque da tua boca, da frieza das tuas mãos. Ainda sei dessa frustração emocional, desse Casanova que encarnas como se a vida fosse um jogo, como se eu fosse uma vítima. Dizer que ainda te conheço os tiques e as manias é grave. Ainda te descubro de olhos fechados, ainda ouço aos meus ouvidos a música que fazes com a voz desumana. Eu ainda não te esqueci.
E, ás vezes, ainda me deito a pensar que só gostava que aprendesses a lembrar-me.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

olha...

olha, queres ver?
queres ver o que o tempo nos fez?
o que as horas escuras e gastas nos fizeram?
até mesmo os sorrisos perdidos, falsos e vazios,
até mesmo o medo implícito nos dias que não passaram,
é que até mesmo o amor que juraste ter, uma vez,
para ti tudo era mentira, era simples esquecer,
esquecer os espaços que pisámos juntos,
e para mim era quase impossível nem sequer revê-los.
melhor, eu nem sequer sei o que para ti é verdade.
por isso, tu continuavas aquilo a que chamavas vida,
seguias sempre em frente.
hoje sabes onde estás, no fundo do mais fundo,
assim, eternamente...
para ti ainda tenho um sorriso,
aquele que guardei, não sei se na alma ou no coração,
é para ti,
um dia, tu sabes,
entregar-to-ei em mão.
porque apesar de tudo, eu amo-te*

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Todos fazemos barbaridades por amor. No genes humanos vem impressa uma capacidade de auto-preservação que faz com que tenhamos o sangue frio suficiente de passar por cima de tudo e todos quando se tem em vista o destino final da felicidade.
Eu não sou diferente, por muito que me apontem o dedo a culpa não é minha. Tenho esta vontade tão egocêntrica de o querer para mim, SÓ para mim e não a consigo contrariar.
Eventualmente, deve haver um limite para isto, não sei até que ponto consigo ser uma má pessoa.