domingo, 10 de fevereiro de 2013


A vida é injusta. É um facto. Não há a mínima necessidade de o contornar.
Fazemos planos, desde pequenos, traçamos linhas com um pincel delicado, vamos ser astronautas, bombeiros, professores, artista. E de repente, esse mesmo pincel delicado borra a pintura. Desfaz tudo. Manda-nos ser Engenheiros Aero-espaciais e nunca sentir a gravidade zero. Manda-nos apagar o fogão e evitar pagar a conta dos bombeiros e remodelação da cozinha. Manda-nos aprender a detestar e desdenhar os professores porque sempre apanhamos os mais ressabiados a leccionar  Manda-nos ter uma profissão segura, e deixar a arte para uma sexta feira por mês, lá no teatro mais perto e se houver tempo.
A este quadro digno de ser queimado quando falta a lenha para a lareira podemos juntar muitas mais partidas da vida, muitos mais pincéis delicados são capazes de nos atraiçoar, naquele instante onde misturamos o azul e o magenta, metemos demasiado azul, fica um quadro escuro.
A vida não tem brilho, não é bonita.
Preferia-a a preto e branco. Peço que seja a preto e branco. Mas já isso é demais. Ela mete mais cores ao barulho. Porque ela é assim. Impossível de contornar sem sair dos seus apertados riscos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

o sem-abrigo

estava frio. a noite já ia adiantada e eu tinha frio. o manto que me cobria o corpo era pequeno de mais para me aquecer. encontrara nessa manhã um isqueiro ainda em bom estado, e acendia-o repetidamente. a chama já desaparecera há muito. e agora, eu repetia o gesto de acender o isqueiro numa tentativa desesperada de sentir algum calor.
passavam pela rua muitos olhares perdidos, sem sentido. alguns atravessavam-me sublimemente. tocavam-me de tangente. mas num ápice se afastavam como quem diz "não fui eu!". depois seguiam no seu caminho. sem destino. sem palavras.
eu ria-me da estupidez mordaz desses olhares. seguros no conforto de si mesmos. trocando os passos ao longo do caminho. mas seguros no conforto de si mesmos. sem nexo. sem direcção. sem vida. mortos já, antes da morte. seguros na insistência deles próprios.
eu ali. deitado ao relento. sem tecto nem pão. eu ali não podia ser real. era apenas um pesadelo deles. eu ali. sem-abrigo. morto ainda antes de ter vivido. desequilibrava a sua segurança. e só encontravam de novo o conforto uns passos mais à frente. perante a certeza absoluta de que eu era irreal. como as imagens que viam à noite na televisão, entre a garfada de arroz e uma coxa de frango.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

love letters.

O amor faz o mundo girar, e às vezes uma carta de amor pode funcionar como antídoto para um coração partido. 
O "pôr as letras a caminho" tem um novo projecto, chama-se "love letters" e pretende encher a vossa caixa de correio de palavras de amor!
Saber mais aqui