sábado, 15 de março de 2014

Recomeço - effusus #15

O contentamento encontra-se em qualquer contexto da vida, onde se brinca, ama, canta, onde simplesmente a vida ganha um aroma mais característico e a chama do nosso coração aumenta de intensidade. O momento é sempre singular e inigualável. Um corpo repleto de amor, uma boca que entoa vocábulos cheios de certeza, porque sempre que se abre o coração para os dias bons consegue-se deixar um pouco de lado as adversidades que às vezes tanto assolam o nosso quotidiano, a melancolia negra finda-se e todo o novo dia é nada mais que uma nova e aprazível música para os nossos ouvidos. É bom saber recomeçar. 

sexta-feira, 14 de março de 2014

Perdida - Effusus #14

Fugo sem ti, e sem mim
por onde ande, a minha alma está ferida.
Nestes caminhos sem fim,
Sem ti, sinto-me perdida.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Terá primeiro de bater palmas - effusus #13


Saí da minha zona de conforto. Avisaram-me que a sensação não ia se agradável que ia cair e voltar a cair. Que o sangue iria jorrar dos meus lábios, das feridas que o meu corpo adquirisse como tempo, com os murros que a vida me desse, mas o mais importante era continuar-me a levantar, continuar a acordar cedo de manhã, pôr os meus pés na terra e sorrir para o sol, que todos os dias faz o sacrifício de me iluminar os caminhos que devo percorrer. 

Depois de muito tempo pensar, cheguei à conclusão de que está na altura de mudar a minha vida, de voltar a respirar, porque se eu quiser ser bem sucedido, tenho de querer tanto ser o melhor, como tenho de querer respirar todos os dias.


Quanto tempo é "só mais um bocado"? Quando tempo demora o futuro a chegar? Preciso de fazer planos? Para todas estas perguntas, tenho apenas uma resposta. "Não sei". Não tenho medo de falhar, não posso ter medo de falhar, tenho os meus objectivos traçados e apenas preciso de tempo e, esse tenho que chegue para concretizar os meus sonhos. Só vou estar disponível no fim do ano, só vou dormir quando o que tiver por acabar estiver acabado. No fim poderei descansar, no fim poderei dizer que fui um tolo, um maluco, um esgrouviado da mioleira, mas até lá, só viverei para respirar e para concretizar os meus sonhos e, se com isso for preciso ficar desempregado e viver na rua, se para ser bem sucedido ter de primeiro sofrer bastante, então que sofra, porque eu quero o objectivo, eu quero cortar a fita da meta, quero rasgar os joelhos no chão quando gritar pela vitória, quero gritar com o fundo dos meus pulmões, as dores e as alucinações que tive durante a caminhada que me levou à meta.

Porque, se para ser melhor tenho de cair mil vezes, que caia duas mil, saberei que, ao falhar tantas vezes, saberei duas mil maneiras de me voltar a compor, de me voltar a levantar e a limpar as lágrimas do rosto, porque no fim, antes de a morte chegar, terá primeiro de bater palmas.


segunda-feira, 10 de março de 2014

das coisas que se foram, effusus #12

As altas horas da noite, alguns copos e um bom grupo de amigos são sempre meio caminho andado para conversas mais, digamos, profundas. E eis que me vejo sempre do lado dos descrentes, dos que não têm qualquer tipo de fé em coisa nenhuma. Porquê? Vejamos...

Deixei de acreditar em deus (sim, nem à maiúscula acho que tenha direito) ainda pequenina. A minha irmã tinha um amigo imaginário, o Humberto. Demorei algum tempo a perceber que os adultos também tinham um amigo imaginário, esse muito mais grandioso e magnífico mas na sua essência igual - invisível, inexistente, imaginário. Deixei de acreditar na esperança, embora já mais tarde. Depois de mais de um mês agarrada ao telefone, à espera de novidades de quem estava agarrado a uma cama de hospital, o nada. E por muita esperança que houvesse, por muitos desejos de melhoras, foi-se um alguém sem nunca ter oportunidade de dizer adeus. Deixei de acreditar em sempres aos dezoito anos. Foram muitas as juras e as promessas, os 'nada vai mudar'. E de repente era como se não tivéssemos crescido todos juntos, como se não se tivesse passado uma vida. De repente éramos estranhos. Não houve sempre que nos valesse.  Deixei de acreditar no amor também. Não sei o quando, não sei o porquê, não sei se alguma vez acreditei. Acho que duas pessoas podem ser felizes juntas, mas tudo o resto é demasiado utópico, demasiado fantasioso, demasiado mentira.

E mesmo assim sou feliz. Acredito em quê? Em nada. Em tudo. Em mim. Nos outros. Nas pequenas coisas. Nos finais felizes de todos os dias.

sábado, 8 de março de 2014

da dor- effusus #11

Da dor, 

tenho 20 anos. Tenho 20 anos e se calhar nem sei o que é essa 'coisa' do amor. Ou, pelo menos, muitas vezes preferia nem saber. Mas tu dóis-me. Dóis-me de cada vez que me lembro, dóis-me pela ausência, dóis-me pelo teu, tantas e tantas vezes, inacreditável desinteresse. Dóis-me por não me contares nada, porque não consigo confiar assim. Desculpa. Tu dóis-me, dóis-me muito. E se calhar o amor é esta dor enorme que sinto. Há mais de um ano, quando ainda nos dávamos a conhecer um ou outro, lentamente, com toda a magia que a descoberta implica, tu reparaste numa frase ("Desculpa, tu fizeste-me rir, mas ele faz-me chorar"), e na tua inocência de homem crescido perguntaste-me se tinha sido eu a escrever... Não fui. Mas podia ter sido. E, neste momento, podia dirigi-la a alguém, sabendo que és tu, meu amor, meu grande amor, que me fazes chorar. Não por fora. Mas por dentro. Por onde sempre me cativaste. Onde estás agora? A viver a tua vida, sem sequer te lembrares de mim? O que fizeste comigo? Penso em ti. Penso muito. Penso sempre. Sempre, sempre, sempre.

quarta-feira, 5 de março de 2014

uma criança - effusus #10

sentado na soleira de uma porta qualquer, encostara a cabeça à parede. estava exausto. não que o meu movimento, quase umbrático, me atormentasse o corpo. mas estava exausto. talvez fosse do sol ou do desgaste que levavam os sonhos. talvez daquele fiozinho de luz mais tórrida que prenunciava o final do dia. talvez de vaguear há dias pelas ruas, sem destino.

sem vontade de fechar os olhos, fixei-os numa criança que brincava a poucos metros dali. esperava com uma impaciência um tanto ou quanto comedida, que duas senhoras terminassem uma já longa conversa. em pequenos saltos, trocava os pés entre a calçada, enquanto o cabelo se lhe desgrenhava e os olhos riam calados, mais alto do que toda a azáfama que se fazia ouvir.

alguma coisa no sorriso entediado daquela criança despertava um outro, bem mais áspero e sem-sabor, na minha face. talvez tenha sido por isso, ou talvez pela sequência que impunham as pedras da calçada na sua brincadeira, que ela se foi aproximando de mim.

como se os sonhos que um dia eu também sonhara não tivessem ainda ganhado bolor. como se a infância fosse ainda do presente, como se me soprassem os calos das mãos e eu reaprendesse a sorrir.

decerto inquieta por ver a criança tão perto de mim, sem-abrigo imundo e lúgubre, a senhora que a acompanhava chamou-a com voz repreensiva.

e a realidade voltou a apoderar-se do meu rosto, num repente de melancolia.

terça-feira, 4 de março de 2014

#conversas



- Estás apaixonada por alguém?
(abano a cabeça como forma de dizer que sim)
- Quem é ele? É de Braga? De Vila Real? Anda na UTAD? É do teu curso?
Não. Não é tão fácil assim.
- Então? É o cabrão que te fez sofrer? Sim, eu sei que sofreste uma desilusão há pouco tempo.
Não, também Não.
- Então deixa-me fazer-te feliz. Eu consigo. Tu és a mulher da minha vida e eu quero fazer-te muito feliz. Juro que faço.

«Não. Eu não duvido disso, mas tu não podes. Ninguém pode. Ninguém pode senão ele.»

segunda-feira, 3 de março de 2014

effusus #9

As ondas engoliam as rochas, e os pássaros voavam em círculos à procura de peixe. Ocasionalmente mergulhavam para depois voltar à superfície com o que haviam apanhado no bico. As árvores ondulavam ao vento, a primeira brisa de primavera. Ela estendia-se encostada a uma cerejeira, acompanhada apenas pelos seus pensamentos e um bom livro. 
Até que alguém abriu o ralo e tudo começou a ser arrastado para os céus. Primeiro foram as nuvens, depois os pássaros, que batiam as asas desesperadamente numa tentativa fútil de se salvar. As folhas cederam logo, e depois troncos foram arrancados e sugados. 

E ela deixou-se ir. 

Seguida de um fio vermelho que parecia nunca terminar, até que o puxou a ele.

E ali, naquele lugar desfeito, fizeram-se amantes, almas-gémeas para sempre ligados através do fio vermelho que une os destinos daqueles que pertencem juntos.