domingo, 26 de fevereiro de 2012

tudo o que sei


A vida é feita de erros, consumidos pelas desculpas, com lágrimas de arrependimento, em prol da amizade que une duas pessoas que respiram o mesmo ar. E depois num instante, tudo muda... O que antes era o sentido dos dias, passa a ser nada, porque nada resta das horas passadas e dos eternos momentos desejados. A presença deu lugar à ausência e a ausência deu lugar ao vazio. E do vazio só resta a saudade do que passou, do que ficou para trás. A ausência leva à destruição de toda essa felicidade que tivemos e à construção de uma desculpa.
Afinal, a vida é feita de quê?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Um dia conheci um número. Estava cansado de tantos cálculos, somas, subtracções. Fugiu.
Queria conhecer o mundo, conhecer letras que não as gregas. Falou-me da matemática e da sua vida.
Quando nos despedimos, voltou para a folha de cálculo. Tinhaabandonado o melhor de si nas folhas quadriculadas. 
Passados uns anos, vi-o de mão dada com a morte, e como iguais abandonaram este mundo.
Apagaram-no.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

eternos porquês

Há dias em que perdemos o sentido da vida... Há dias em que não conseguimos encontrar respostas para a imensidão de porquês que pairam na nossa cabeça como nuvens prestes a condensar. Há pessoas que não se explicam, por mais que tentemos encontrar palavras, gestos, actos, para esclarecer a sua razão de existir e de agir. Há sentimentos que tomam conta de nós, nos devoram a alma e nos fazem sonhar. Há coisas que por mais que tentemos desvendar vão permanecer eternamente uma incógnita, uma imensidão de nadas e de tudos que nos agarram, nos prendem e nos movem. Num dia somos grandes amigos, não paramos de falar a cada segundo, no seguinte somos uma guerra de titãs. Num momento sou a tua vida, noutro uma mera desconhecida. É incrível como o ser humano tem a capacidade de mudar mais depressa que o próprio tempo vagaroso, é incrível como tudo muda em escassos instantes, e às vezes basta um simples ditongo para "entornar o caldo" e nada voltar a ser igual. É triste? Sim. É revoltante? Também.
Só queria perceber, juro que só queria entender. Só queria que percebesses, apenas queria que percebesses.
Há coisas que não se explicam por palavras. Há coisas que se sentem na presença e, ainda mais, na ausência. Há coisas que não conseguimos descodificar. Há coisas que sempre serão uma incógnita.
A minha incógnita és tu, e eu sinto muito a tua falta!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Le future.



Dear 20 years old me


Lamento ser eu a dar a notícia, mas o final apregoado pelas bocas mais invejosas deste mundo sempre se confirmou, não vais viver nesse conto de fadas idílico muito mais tempo. Não vais realizar os teus sonhos. O teu ego não vai transbordar pela magreza do teu corpo. Na realidade, vais-te rir, para não chorar, daquilo que estás a pensar que vais conseguir fazer da vida.
Queres que te conte? Vais recorrer às velhas anfetaminas para acabar o curso, sim, vais voltar, e idolatra-las como não fazes com ninguém, vão ser as melhores amigas em tempos de recursos e estágios complicados. Ah! Esqueci-me, também vão ser elas e ópio a fazer-te esquecer os desgostos amorosos, porque sabes, isso de andares a acreditar que não são todos uns cabronnes é um puro e grandessíssimo disparate, descendem todos do tronco comum da peguisse e luta para noites de sexo ardente e sem significado. Vai por aí o teu plano de vida, vais resistir aos valores que infliges e entrar no esquema tão português de cunhas para conseguir um emprego, vais ser daquelas ressabiadas, não dizem ‘Bom Dia, Senhor António’ e apressam-se a dizer boa tarde, sem ver sequer o nome na ficha médica. A tua salvação vão ser os gatos, os gatos e os mendigos, vais ajudar, não pelo amor pelas pessoas, mas pelo teu ego e salvação da tua mente e dada personalidade.
Voltando aos tópicos, não vais ser magra, as portas duplas vão ser as amigas de uma vida, mas pensa positivo, se comprimires muito a nojenta gordura pode ser que ainda sintas os ossos, não sei, nunca estudei isso em profundidade nem me/te tentei tocar, mete-me repulsa saber quem sou.
Por fim, minha querida eu, há dez anos atrás que acreditavas que não irias chegar aos trinta, e adoro ser eu a dar a notícia, desta vez, as tuas visões estão certas. Tanta é a miséria que o melhor é apelares à nossa morte, com analgésicos, para que não sintamos nada.

Love, the future.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

“Amor é fogo que arde sem se ver”. É este o pequeno trecho, de um poema de Luís Vaz de Camões, que se encontra escrito num pequeno postal que me estendem. É, apenas, mais um na grande panóplia de postais referentes ao dia dos namorados que se encontram nesta estante. Pode ser que venha a dar jeito a alguém! Talvez hoje, talvez amanhã. As estatísticas dizem que o número de flores e chocolates aumentam. Também afirmam que muitos restaurantes ficam lotados, para deleite dos proprietários. A verdade é que as vendas e as receitas demonstram que o dia dos namorados tem bastante significado para a sociedade. E contra factos não há argumentos! Sejam os maridos que procuram surpreender as mulheres, sejam os namorados que anseiam em enternecer a sua cara-metade ou até os apaixonados que ousam namoriscar as suas amadas, todos correm desenfreadamente à procura da melhor surpresa, numa incessante caça ao tesouro organizada pelos estabelecimentos comerciais.

Uns tentam obedecer às massas e cumprir com o que é já aceite socialmente porque “fica sempre mal” não o fazer. Outros procuram afirmar-se dizendo que sentem orgulho em passar o dia dos namorados sozinhos porque também é bonito ser do contra. A verdade é que a maior parte gostava de ter namorado/a e não gosta de passar esse dia sozinho. Nem esse, nem nenhum, porém, o nível de “solitarismo” (chamemos-lhe assim) desse dia aumenta, sendo diretamente proporcional à valorização que lhe endereçamos. Provavelmente pouca gente repara nisso mas o dia 14 de Fevereiro é apenas mais um dia no calendário. É apenas o quadragésimo quinto dia do ano ou o décimo quarto do mês. Calma! Pode não ser! Pode ser um dia especial. Pode ser um dia de aniversário. Pode ser o dia de nascimento de alguém. Até pode ser um dia especial para dois namorados, atenção! Condenável é o facto de ser “o” dia especial e não “um” dia especial. O dia dos namorados, na verdadeira acepção da expressão, não pode servir de desculpa para uma demonstração de carinho. Não pode servir de desculpa para que muitos homens ou mulheres, apenas as emancipadas!, sintam vontade de mimar a sua cara-metade. No dia em que isso acontecer devemos procurar o porquê de precisarmos de uma desculpa para amar.

O amor não precisa de desculpas. E tal como não precisa de desculpas, também dispensa lugares e dias especiais para se fazer sentir. E visto que, como afirma a sabedoria popular, para bons entendedores meias palavras bastam, deixo que os verdadeiros apaixonados percebam o que eu quero dizer com isto. Faria bem em acabar por aqui, porém, sinto-me na necessidade de fazer apenas mais um pequeno aviso de cuidado para aquelas pessoas que procuram a paixão momentânea e a fuga à responsabilidade que um verdadeiro romance acarreta, não vá o diabo tecê-las e inventar um dia também para elas.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Aos corações.


Seguem-se portanto as pertinentes horas que antecedem as epopeias ao amor romântico. Coisas planeadas, esquematizadas em papel milimétrico para que nada fuja de controlo não vá o amor decair por aí abaixo por causa de uma celebração mal feita. Uma perda de tempo, de energia. Uma perda de amor. Uma canseira de planos, esgotante falta de liberdade, falta de tudo. Uma entrega de cento e muitos por centro ao amor da minha vida desse meretriz catorze de Fevereiro. A cegueira desmedida pelo tentar agradar exponencialmente à cara-metade do momento, as expectativas. No final, o amor de verdade deve ter ficado noutra gaveta, traçado a tinta permanente, sem direito a corrector e com erros pelo meio, mal planeado e, ainda assim, levado a bom porto.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sei-me tão de cor que às vezes me manipulo de forma a saborear mentiras e desfazer verdades que esfolam a pele. Arranjo mil e uma desculpas para quando caio, e tento fingir que não sei que tropecei nos meus próprios pés.

Das lutas do amor.

Todos os dias vestimos o belo do calçãozinho largo e as luvas de boxe. E todos os dias procuramos entrar naquele ringue quadrado onde lutamos pelo grande prémio: a pessoa que nos aquece o coração. Não, o amor não é um simples organizador de eventos esporádicos. A verdade é que todos os dias ele nos coloca como cabeça de cartaz, colocando-nos também a cabeça a prémio no evento principal. E lá vamos nós, derrotando adversário atrás de adversário. Com gestos, com palavras... cada um à sua maneira. Ouvi dizer que já houve quem mordesse a orelha do adversário para ganhar uma luta destas.

A verdade é que a memória do amor tanto se mistura entre um elefante e um peixe, e deste último já vieram provar que não é como diz a sabedoria popular. Assim nos é pedido que o conquistemos diariamente, numa luta diária pelo que ousamos manter. Sabem? O amor perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. A verdade é que tendo o tempo tanto tempo quanto o tempo tem, o amor não precisa dele. E deixa de ser diário, passa a ser momentâneo. Assente em vários pequenos lutadores fragmentos de tempo, assim corre o amor. Então deixa de haver uma exigente luta por outrém. A luta não vem antes, nem depois. A luta não existe. Faz parte e mistura-se.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

I know something you don't know

O inverno durou mais
E mais e mais do que
Era suposto. Mas
Acabou, acabámos,
Acabei. O invernou durou mais
E mais e mais do que
Tinhas prometido. Levantei-me,
Fui ter comigo. Tu ficaste
Num qualquer Dezembro frio.
Tu ficaste. Eu não.
Desculpa, mas eu não.