Tropecei numas gavetas e dei com umas palavras minhas. Parei o que estava a fazer e li-me. Perdi a conta ao número de vezes em que sorri. Aquela não sou eu. Já não. Era uma carta escrita por uma pessoa profundamente triste, profundamente sozinha e - o pior - profundamente apaixonada. Fui mais para trás. Fui ler outras versões de mim, também elas profundamente apaixonadas. E quanto mais recuava mais bonito era o mundo. Mais eram os sempres, mais eram os sonhos de finais felizes. Isso acabou, pelo menos por agora.
E não faz mal. Em versões de mim passadas, a solidão assustava-me. Entristecia-me. Agora acho-a um pouco inevitável. Crescemos e a nossa casa deixa de nos chegar. Mudamo-nos para um sítio maior. Mas vamos sozinhos. E na imensidão dos prédios e dos arranha-céus, no silêncio das viagens e na correria de todos os dias, é inevitável que andemos sozinhos. Não que não possamos voltar ao quentinho da lareira e das conversas até tarde de tempos a tempos. Mas os dias são solitários. That's a side effect of adulthood. And it's okay.
Há algumas noites, no frio de lisboa, se quisesse - se tivesse deixado - podia ter voltado. Digamos que o "amor" - e como odeio esta expressão - bateu à porta. E eu podia ter voltado à versão de mim que acredita em sempres e que sonha com finais felizes. À versão de mim que não se importa de estar profundamente apaixonada. Podia ter agora alguém para me aquecer os pés de noite e para me dar um beijo de bom dia. Mas assustei-me. Tive medo. Bati o pé. Se deixasse entrar alguém será que ainda haveria espaço para mim? Não quis perder a minha sozinhice. É engraçado, mas pela primeira vez depois de tantos anos quero mesmo estar comigo. E com mais ninguém.
Portanto fugi. E consegui. Mas só porque desta vez ele se dignou a bater à porta. Se entrar de rompante...