terça-feira, 29 de maio de 2012


Está escuro e não gosto de estar sozinha. Nunca gostei de estar sozinha. Nunca quis estar sozinha. O silêncio sempre me fez confusão, o silêncio sempre trouxe mais medo. E ter medo não pode ser bom, ter demasiado medo não pode ser bom. As saudades escondem-se em buraquinhos que vão encontrando, em buraquinhos que não soube preencher, ou que deixei que se esvaziassem. Mais buraquinhos trazem mais saudades e mais saudades trazem mais dias sozinhos. Está escuro e não gosto de estar sozinha. Não quero sair à rua porque na rua há pessoas e com as pessoas é suposto criar amizades. Mas quanto mais amizades menos Inês há para dividir… E se a Inês não se dividir passam a existir mais buraquinhos. Deixei de sair à rua para fugir dos buraquinhos. Mas em casa, em casa também nascem, esses buraquinhos. Há buraquinhos em todo o lado. Se calhar mais vale sair à rua. Mesmo que esteja escuro, mesmo que esteja sozinha. Pelo menos não há silêncio, pelo menos o silêncio fica em casa. E, quem sabe, também os buraquinhos.

domingo, 27 de maio de 2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

chorar e nascer



contavam-se já vinte e três dias ao quinto mês do ano de mil novecentos e noventa e três. ela nasceu. rompeu-se o silêncio e ela nasceu. primeiro chorou, depois nasceu. e como lhe soube bem nascer.

consta que a partir daí, chorou muitas vezes, mas nunca mais nasceu. a partir daí, dizem, sempre que chorava, esperava, sem dar por ela, um nascimento.

ao início, ainda lhe acorriam ao choro, alguém a segurava no colo e lhe segredava palavras bonitas ao ouvido. mas nascimento, nem vê-lo!

depois fartaram-se, mandavam-na calar quando chorava. até a tomavam por birrenta. é normal, que ela é criança!, diziam. mas nada de nascer, que era o que ela queria.

então aprendeu a chorar sozinha. mas no fim de chorar, vinha o silêncio. e continuava sem nascer.

por entre choros sem nascimentos, estava o mundo. ela pegou num sorriso e pô-lo aos ombros, para as horas vagas. e caminhou. caminhou sem parar. dezanove voltas ao sol depois, ainda caminha.

por entre choros sem nascimentos, nessa busca que todos fazemos, tive um dia a sorte de a conhecer.

e, sem chorar, nasci.

sábado, 19 de maio de 2012

Há só uma coisa que resiste ao tempo: as palavras.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Às vezes somos confrontados com a acostumada pergunta "o que queres ser quando fores grande?" e recentemente adquiri a sensação de que a pergunta nunca foi correctamente formulada.
O que quero fazer quando for grande?
Ser capaz de conceber o Mundo apenas com as minhas palavras.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Se fizeres todos felizes, tu estás feliz. Então, se estiveres feliz, farás os outros felizes.