Pretendo exilar-me de mim mesma.
 As arestas polidas entretanto encarquilharam
 Como dedos muito dentro de água. Quente.
 Pele velha recolhida sobre si mesma
 E texturas amargas, tal qual vinagre na boca.
 O eco propaga-se, como numa gravação,
 Uma cassete antiga de rolo arrancado.
 Fotografo memórias para as poder esquecer
 E relembrar somente o que me dilacera
 E carne arranca, o que explora os cantos recônditos
 Da pesada envergadura de mim mesma.
Pretendo exilar-me. Caminhar eternamente
 Por entre as florestas tribais do sonho.
 Os vidros estilhaçados ferem-me a cortiça dos dedos,
 Receio o embaraço do sangue pegajoso
 O opróbrio dos fracos sofredores
 Que gemem sonetos por lábios entreabertos
 E recusam a salvação por masoquismo exímio.
 Recolho-me a esta classe enclausurada
 Em paredes e barreiras puramente ilusórias.
 Não existe vida. Deus está morto.
 A proclamação do inferno na Terra é um engodo.
 Mas o eco continua a propagar-se,
 Na atmosfera suspenso por cordéis cinza
 Infiltrando-se como humidade nos poros.
O silêncio de tudo permanecer na mesma
 E a depressão de tudo ser igual de outra maneira
 Acalentam os demónios pessoais da minha existência. Desolada.
 Desloco massas de água, que chovem sobre mim
 E caio repetidamente, qual Alice sem direcção
 Na trama imunda de uma sociedade viciada.
 De mim fujo, de mim me quero afastar
 E desta dor crónica de cassete repuxada.
 Exilo-me de mim e, como se não bastasse,
 Exilo-me do que a realidade à força me quer dar.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
effusus #52
"Não me parece que, finalmente, tenhamos tomado caminhos diferentes. Parece-me, sim, que esta é mais uma fase para descobrirmos que não somos nada. Não somos sequer donos de nós próprios. E se achamos isso, um dia aparece alguém nas nossas vidas (como tu apareceste na minha) e leva-nos consigo para sempre. Conquista-nos para sempre. Foi isso que fizeste comigo. Conquistaste-me para sempre. E agora quem vier que se aguente. E eu que me aguente também.
Devolve-me. Espera! Não sei se quero..."
Subscrever:
Comentários (Atom)
