sábado, 31 de outubro de 2009


                    Impossível é guardar
                                    o
                                 R
                                   i
                                    o
                                    Que
                                Des
                                      agua
                                   No
                                         no
                                            sso
                                   Passado

Ontem já lá vai, daqui a 5 minutos já é futuro. Vivamos o presente, de uma vez por todas?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

solidão

troco as palavras quando te quero escrever, a minha mão direita chateou-se com a caneta e a esquerda nunca soube usá-la.
cambaleando por entre os dedos, ela vai enchendo de riscos e rabiscos o papel (quero sempre escrever-te a caneta, para ser tão intenso e definitivo como o que sinto).
a mão direita irritou-se: também quer ser protagonista! nada melhor que arrancar violentamente a folha do bloco - inocente que a caneta encheu de patetices - e amarrotá-la sob o meu olhar indiferente.
queria-te escrever alguma coisa especial, mas a caneta não deixa, a mão direita não deixa e a mão esquerda nunca soube. o meu olhar permanece assim, indiferente. eu permaneço calado.
quando te quero escrever, gasto blocos de folhas inocentes, que a caneta enche com patetices, ainda antes da mão direita, irada, arrancar violentamente e amarrotar sob o meu olhar indiferente.

podia passar horas a contemplar o teu sorriso e o teu olhar, e aí dizia-te tudo.
dizia tudo sem palavras, que a língua enrola-se quando te quero falar.
dizia-te tudo com um olhar ou um sorriso. dizia-te tudo num silêncio.
podia passar horas para te dizer tudo, se ao menos estivesses aqui.

largo a caneta e o bloco, coloco a cabeça entre os joelhos e penso em ti.
um toque estridente do telefone corta o silêncio amargo.


talvez, talvez sejas tu!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Para um Pai Ausente.



Pai,
hoje, quase 10 anos depois de nos teres abandonado, decidi escrever-te e contar-te tudo o que senti na tua ausência. Ausência essa que sempre senti mesmo quando ainda não tinhas saído de casa. Na realidade nunca foste um pai a sério. Não, eu nunca tive um pai como todos os meus colegas de escola. Tu nunca passeas-te comigo aos fins de semana, nunca me levaste á praia e nos dias frios de Inverno nunca me aconchegaste os lençóis. Eu sei porque todas as noites ficava acordada até te deitares, sempre na esperança que o fizesses. Nunca me pedis-te para me sentar ao teu lado, nem nunca me contaste histórias. Esquecias-te de mim frequentemente e se te lembravas era só e apenas para dizeres que não fazia nada de jeito. Comecei a pensar que era um peso para ti e desejei muitas vezes nunca ter nascido. Na tua carteira não havia espaço para uma fotografia minha e nunca guardaste os desenhos que te oferecia no Dia do Pai. Eu nunca me esquecia de ti.
Cresci no meio das tuas discussões com a mãe. Tinha tanto medo quando gritavam. Ás vezes espreitava pela porta entreaberta do vosso quarto e via-te levantares-lhe a mãe e agredi-la tanto física como psicologicamente. E, ela gostava tanto, tanto de ti que não tinha coragem para te largar. Consentia tudo.
Porque é que nunca foste capaz de demonstrar carinho pela tua família? Pelos que mais te amavam? Porque é que sempre anulaste esta parte de ti, que éramos nós?
No dia em que a minha mãe teve coragem para te amachucar as roupas e as enfiar numa mala velha e rasgada, com o coração estilhaçado, e te pôs fora de casa, eu chorei a noite toda. Por mais ódio que sentisse em relação a ti não imaginava os dias preenchidos de vida tua, nesta casa. Durante muitos dias esperei que regressasses e tu não voltaste nunca. Mais uma vez esperei e voltei a esperar em vão.
Mas sabes, pai... eu sei que apesar de tudo tu me amas ainda como sempre amaste. Apenas nunca soubeste demonstrar esse amo. É impossível os pais não amarem os filhos. O amor por um namorado/namorada, marido/mulher, amigo/amiga pode desaparecer. Mas o amor por um filho nunca, mesmo nos piores dias. O amor por um filho permanece sempre. Apenas ás vezes se pode esconder, numa parte funda de um coração deficiente como o teu, mas eu acredito que um dia vais lembrar-te de mim e vais procurar-me ; vais sentir o arrependimento perfurar-te a pele e vais correr para mim para me abraçares e com lágrimas nos olhos vais dizer baixinho: Desculpa, filho.
E eu, que estou aqui á espera desse momento, como sempre estive, como sempre hei-de estar, vou abrir-te os braços, abraçar-te com força e também com lágrimas nos olhos e o coração cheio de felicidade vou dizer-te: Eu desculpo-te, pai.

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PS: Espero que gostem do meu primeiro texto neste blogue :)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

Intrigas;

(Ao inicio de uma manhã de Domingo)

Mãe: Atira a camisola do teu namorado para debaixo da cama e vai é estudar!

(silêncio)


Não vais conseguir fazer nada para que recue na minha felicidade ou deixe de lutar por ela, nada, sublinho- Foram palavras para o interior; eu permaneci calada enquanto os olhos vidravam.

(a camisola está e vais continuar a estar todas as noites à minha cabeceira, ou sobre o meu peito)


Isto foi só um desabafo, um grito de revolta. Peço desculpa.


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Uma questão social

Já passei por picos, por altos e baixos. Às vezes penso que estou a curar mas isso é um erro. Doenças como tu não se curam assim. Pelo menos estou medicada: sinto menos tonturas e as febres altas são cada vez mais espaçadas. É verdade que ainda cambaleio um pouco, que o nariz se entope e que a minha mãe, com a mania das medicinas, me pergunta insistentemente se não quero um chá. E eu olho perplexa para ela, entre espirros e lenços de papel, e não entendo como pode ela pensar que me livro de ti através de ervas em água quente. Mas não a culpo. Ela não sabe de ti. Viu, por diversas vezes, os meus olhos a brilhar, voz afinada em cantorias pela casa e, adivinha, viu dentro do meu coração alguém dele apoderado. Mas não a culpo. Inventei uma desculpa e desvalorizei-te. Não te dei nome, nem morada, nem retrato. Como isso me custou. Porém, não valia a pena. Pessoas como tu não têm nenhuma dessas três coisas e contigo, desde cedo aprendi a amar um amor incógnito. Foste apenas um passarinho. E foi isso que eu lhe expliquei.
Às vezes penso que estou a curar. Já nem espero que me ligues. Sei que não o farás. Já nem espero que te encontre. Sei que os nossos relógios nunca se acertaram. Vivemos em tempos diferentes, em épocas distintas. Somos quase um estrato social impossível de se fundir. Se as regras são para se cumprir não percebo a nossa insolência ao romper com as normas sociais. Viemos de culturas diferentes, está visto que os valores também o são.
Às vezes penso que estou a curar mas eu ainda não ultrapassei a vontade de te dar um nome, uma morada e um retrato.
Dá vontade, na maior parte das vezes, de amar alguém com identidade.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Quebramos os dois

Era eu a convencer-te que gostas de mim.
E tu a convenceres-te que não é bem assim.
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro.
E tu a argumentares os teus inevitáveis
Eras tu a dançares em pleno dia
E eu encostado como quem não vê
Eras tu a falar para esconder a saudade
E eu a esconder-me do que não se dizia
Afinal quebramos os dois.

Toranja