domingo, 6 de novembro de 2011

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Para quem gostar:
Nunca sabemos para onde vamos, nem como vamos. A verdade é esta, um barco pode ser o motivo de partirmos em busca do conforto da nossa alma; Pode ser a chave para a caixa de música que ficou parada sobre a secretária; Pode ser a nossa estrela guia.
Um barco pode diminuir distâncias, principalmente quando um barco se torna o nosso coração e o seu material de construção são todas as coisas que aprendemos na vida.
Ninguém sabe para onde vai ou onde pertence, na verdade, a nossa vida é desregrada e inconstante como todas as ondas que se desenlaçam no oceano. Pegamos num bote e saímos do navio, achando que a solução é fugir a qualquer tempestade que ameaça a tripulação. Porém, o esquecimento em situações de rapidez é mais favorável e deixamos todos os nossos trunfos lá, em algo que fomos construindo durante a nossa vida, achando que largar tudo é mais fácil do que ficar. A terra vai ficando à vista, quase que olhamos para trás, e nesse momento, somos engolidos por uma onda gigante. Onde fomos parar? Não sei bem, mas no fundo do mar também existem pianos e fábulas secretas; Também existem tripulações; Também existem estrelas. Por vezes, as coisas não têm mais vida cá fora, às vezes, o essencial é naufragar e voltar a reencontrar toda a nossa vida, de pernas para o ar ou mesmo, debaixo do mar.

Há um dia na nossa vida em que cortamos todas as árvores e construímos um navio. Cuidamos dele todos os dias até estar pronto, limpamos todas as suas arestas, desenhamos cuidadosamente as suas velas e sorrimos cada vez que sabemos que vamos trabalhar nele.
As árvores ficam a ser, então, o nosso objecto de viagem: Um pequeno barco, frágil como cada pedaço do nosso ser, da nossa sensibilidade, da nossa coragem. Um misto de cada pormenor de que nós somos feitos. E esperamos, dias e dias, contemplando cada farpa que se levanta, cada pedaço de tinta ainda humedecido, na esperança de chegar o dia certo para partirmos à descoberta.
Há noites longas, em que nos deitamos sobre o seu chão e contemplamos a lua, achando que ela é a única que nos acompanha e nos retira da solidão; Achando que ela é a única que nos aconchega a alma e nos faz ficarmos mais protegidos de todas as cruezas do ser-humano. Mas o esquecimento invade-nos em vários sentidos. Nunca estamos sozinhos a ver a lua, nunca o frio pode ser esquecido por ela enquanto não fixarmos essa ideia.
E numa noite de quarto crescente ouvimos vozes em sintonia pelas colinas e sentimos que é o momento certo. Pegamos no barco, frágeis após tantos naufrágios e soltamos as amarras que nos ligavam à terra e a uma sensação de sol. Partimos numa noite qualquer, onde só a Lua nos indica o rumo a seguir, num rasto quase de tinta derramada pelo oceano. Lá à frente, vejo um horizonte banhado por um Luar tão sereno e inato que nunca chego a duvidar dele.
Contrariamente ao que seria de esperar, o Luar vence-me o frio, o medo, as vozes, a música que ecoa nas colinas e estou só eu. Eu e um pequeno barco, construído a árvores frágeis e iluminado por uma Lua. Não por uma Lua qualquer, mas por essa mesma Lua que do outro lado do mundo tu também contemplas, procurando que ela te ajude a vencer o frio e o medo, numa noite qualquer, onde o seu rasto no oceano é simplesmente a coisa mais perfeita que poderiam reservar para nós, humanos.

1 comentário:

deixa tu também letras soltas no caminho