terça-feira, 9 de julho de 2013

- Desculpe, senhor, mas o seu relógio está partido. 
- Oh, obrigado, menina, talvez tenha batido ao entrar no autocarro.
A criança sorriu e dirigiu-se para um dos lugares do fundo, saindo assim do seu campo de visão. Não analisou quem mais pudesse estar ali no autocarro. Em vez disso, virou-se para a janela, encostou a cabeça ao de leve no vidro frio que lhe oferecia algum descanso. Parou para observar uma última vez o relógio, marcando um velho hábito. Era realmente uma peça fantástica, de cabedal e com vários arabescos decalcados. Contudo, o mostrador estava lascado, várias linhas se desenhavam a partir do centro e impediam a leitura. Os ponteiros estavam parados, desde as quatro em ponto de um dia qualquer. Na verdade, encontrara-o no chão. Muito tempo atrás, enquanto caminhava na cidade, pensava na vida que deixara ao fechar a porta minutos antes. Absorto nisto, sentiu algo debaixo do sapato. Pisara um relógio. Então parara para o segurar, com medo que fugisse. Vendo a sua figura desfigurada, notou que se assemelhavam, homem e máquina, ambos abandonados no mundo. Decidira guardá-lo, e ali estavam ambos, ainda sem reparo. A paragem do autocarro foi bruta e despedaçou todos estes pensamentos, e os esquecidos saíram para as ruas. 

5 comentários:

  1. Gostei muito !
    R: Meu deus obrigada pelo teu comentário lindo de força e apoio!
    Obrigada do fundo do coração <3

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  2. Pois, é disso que tenho medo... de não encontrar forças dentro de mim para suportar tudo.
    Gostei muito deste teu texto *

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