Calha-me a mim hoje. Sim, hoje sou eu que devo deixar aqui o meu effusus. O meu lado instável, desgrenhado, vasto. Derramado. Escolhi este dia e ri-me comigo. É o nosso dia, pensei. Agora já não. Agora este dia não é de ninguém, é apenas uma lembrança de que apenas os fins são certos. E, no entanto, não há nada de instável, desgrenhado ou vasto em mim. Nem tão pouco derramado. Só há eu. Tanto eu quanto seja possível. Muito mais eu do que alguma vez pensei ser possível. Eu vírgula feliz ponto. E no meio de tantos fins, confesso que há poucas coisas de que me orgulho, que me aquecem por dentro, que me fazem sentir eu. Lembro-me da minha madrinha me dizer, por entre capas, canções e lágrimas
- Tu foste e és Coimbra
E fui. E sou. Todos os dias desde que esta cidade me acolheu, sem querer saber os meus ontens, todos os dias desde que a minha casa deixou de me bastar. É certo que não sou já a mesma que aqui chegou há quase quatro anos, carregada de malas e sonhos. É difícil crescer. Não fosse o azul escuro e não o teria conseguido. Morreram esperanças e devaneios de infância, sonhos ingénuos e sem futuro. E mesmo sabendo que tudo tem um prazo de validade, há coisas que acabam por ficar entranhadas cá dentro, talvez até para sempre. Afinal de contas,
- És Coimbra
Ainda assim, sei que um dia terei de refazer as malas, forçar as antigas memórias e os novos sonhos dentro delas. Direi adeus à cidade, a tal da saudade, e despedir-me-ei com um beijo. De boa noite, bom dia, bom fim. Bom recomeço. Um dia terei de dizer Calha-me a mim hoje. Eu vírgula feliz ponto.
Espectacular! :)
ResponderEliminarGostei ponto!
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