sábado, 8 de fevereiro de 2014

por em palavras o que a mente detém - effusus #4

«Do amor,

Um gole. Dois. Três. Quatro. Ah, este vinho. Bendita promoção. Visão turva. Noção das coisas - total. Cinco. Seis. «Isto está lindo, está». Saudades disto. Mas calma! Ainda não veio ao de cima o meu lado sentimental. Porque é que temos de ter um? A vida era tão mais simples sem ele.
Sete. Oito. Pensamentos - todos canalizados para a mesma coisa. A mesma pessoa. O álcool não engana, não me venham com tretas. Alguém se descai. Não sei como nem porquê. Que raios. Agora é que vão ser elas. «Ok, postura!». Não, tarde demais. Pronto, vamos lá falar sobre o assunto.
As perguntas surgem de todos os lados, atropelam-se. Não consigo responder a tudo. E nem quero. É demasiado complicado. Eles não sentem, não entendem. Se calhar até me julgam. Não parece. Apoiam-me!? Serão meus amigos de verdade? Saberão eles o que passo, a dor que sinto por saber das circunstâncias, por pensar nas circunstâncias. Já não me envergonho. Como poderia? Gosto dele. Não nego isso perante eles. Afirmo e reafirmo. Olham-me. Não sei se com pena ou admiração. Ou então perguntam a eles próprios se estarei louca. Não, meus amigos. Seria preferível? Estou apaixonada. Será mais grave? Sempre achei que sim.
A conversa prolonga-se, alonga-se. Todos procuram perceber porquê. Nem eu sei. Apesar de tudo, eu gosto. Gosto das coisas assim. Um pouco ou nada secretas. Surpreendentes. O vinho desaparece, à velocidade da luz. A noção das coisas começa a escapar-nos. E eu começo a ser ainda mais e mais sentimental.

Quem me dera. O que eu dava.... O que eu dava para o ter agora aqui. A beber este copo comigo, sei lá. Desde que o tivesse. Não tenho. Alguma vez o tive? Perguntas, outra vez. Não quero perguntas. Deixem-me falar. Deixem-me dizer que quero percorrer o mundo com ele. Só nós os dois. Sem os preconceitos patetas de quem não sabe que o que eu sinto não é menos, se calhar até é mais, do que o que sentem os jovens casais apaixonados e namorados. Parece parvo. E é. Adiante. Passo a noite a falar dele, a pensar nele. Abano ligeiramente a cabeça, o álcool está no auge do seu efeito. Nem assim. Eu aqui. Ele lá. Tantos quilómetros de distância e saber que já estivemos tão perto. Calma, amanhã ficará tudo bem melhor. Ou não. Os pensamentos continuam os mesmos. Sonhos. Planos. Tanta vontade de tudo e de tanto. Tanto dele comigo e em mim. Se pelo menos eu pensasse nisto só quando estou sobre o efeito do álcool. Se. Malditos se's. Gosto dele. Repito. Eles ouvem. Brindam comigo. Porque querem a minha felicidade. E a minha felicidade é, em parte, ele. Eu sei-o. Se fosse tão fácil assim.
Garrafas vazias, copos também. Mentes conscientes e inconscientes. Conscientes no amor. Do amor.
Amanhã é outro dia, pode ser que já não se lembrem de nada.»

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