domingo, 22 de junho de 2014

muito, meu amor

Quando é que ele chegou? Diz-me. Quando é que ele a viu pela primeira vez? Diz-me. Quando se abraçaram?

Quando é que isto começou?

Isto, o quê?

Isto.

O amor?

Sim, o amor.

O amor?

Sim, pode ser isso. Quando é que o amor começou?

Começou antes de ter começado. Um pouco antes. Nenhum deles soube quando começou. Só se sabe como é depois de já ter começado. Nem se sabe o que é, sabe-se só que já começou.

E depois?

E depois não acaba quando devia acabar. Dura mais tempo. O coração bate mais tempo. Não há maneira de parar o coração. 

E então?
E então é assim. Não há muito que se possa fazer. É mais do que suficiente. Tem de se aguentar. Todo o tempo que durar. Sem nunca saber, do princípio ou do fim, pode-se esperar.

Pode-se esperar?

Sim. Pode-se esperar. Sem saber o que se espera. É esse o verdadeiro esperar. Ninguém pode adivinhar o que traz o amor.

Pode trazer tudo. O amor é isso tudo que se deve esperar. 

Isso é ainda pior.

É. Não saber dizer o que é. Não haver palavras. 

O amor não tem nome, forma ou cor. Vem quando quer. Vai quando não se espera que vá.
Não se deixa adivinhar. Ninguém tem mão no amor.

E então? O que é que tu queres saber?

Eu gostava de saber.

Eu também gostava de saber. Mas o que se sabe é muito pouco. Quase nada. 

O amor não começa quando se quer, nem acaba quando se deseja. O amor é forte, destemido, indomável. Se não fosses tu, eu seria outro, dizem-se os amantes: eu quero viver na tua vida. Os amantes adivinham-se sem palavras, olham-se nos olhos à procura, fecham-se em quartos pequeninos. Perdem-se um no outro, agarram-se com toda a força dos dedos e dos braços, beijam-se sobre fundos abismos. O amor sempre mete muito medo. O medo de vir a faltar, depois de tudo ter prometido. Vai, mas não apanhes nenhum frio, e depois volta. Os amantes regressam quando a luz é pouca a um supremo egoísmo. Eu e tu e mais ninguém. O mundo pode desabar, o mar mudar de cor, a lua cair de repente. Só importa o brilho dos teus olhos e o sangue a bater nas minhas veias. Sabe-se lá o amor.

Fica quieto, não faças nada. Ama-me mais e mais, de dia e de noite. O mundo não precisa saber de nada disto.

Pedro Paixão

2 comentários:

deixa tu também letras soltas no caminho