sábado, 2 de maio de 2009

Espaços

Chegaste, guitarra ao peito e com a franqueza do costume. As minhas pernas balançaram ao ritmo da tua melodia no mesmo instante. Segurei-me ao portão de ferro e decidi que, se caminhasse lentamente de olhos presos no chão, não cairia. Deixamos sair umas quantas notas da boca sedente de algo mais que um "Boa-noite" e, finalmente, abandonaste-te ao pé de mim na cadeira de madeira velha.
O espaço...o espaço que te afastava de mim e que só me dava vontade de o rasgar, um espaço que eu começo a alargar ainda mais com os meus "mas" e que tu dilatas com as tuas promessas repetidas a cem mil espaços como o nosso. Talvez eu seja tonta, talvez eu perca aquilo que mais desejo, "mas" o meu coração não pode ser posto a descoberto tão abruptamente. Tenho medo que se constipe e que tal o leve a ficar dentro de casa uma semana com febres altas. Entreolhamo-nos, combinamos que a noite pode ser dilatada como o nosso espaço abismal e vamos ouvir as ondas estalar no meio das conversas feitas de vozes jovens e alegres. Dou-me a ti no silêncio, naquele toque que ainda está gravado em mim como "a luz em papel fotográfico"e tu nem percebes como o meu coração, cada vez mais desprotegido e fraco de tanto resistir, se enche de possibilidades e reconhecimentos de algo transcendente quando me apertas com força a mão fria. Talvez tu não te importes assim tanto que eu resista, talvez tu não te importes assim tanto com um espaço encurtado, talvez eu seja apenas mais um espaço no imenso espaço que é o teu espaço.
Vou cair, não vou? Vou fazer um grande corte no lado esquerdo do peito e tu, de guitarra ao peito e com a franqueza do costume, vais cantar essa nota perfeitamente limpa e harmoniosa num outro espaço qualquer.

3 comentários:

  1. expõe o teu coração. o perigo de ficar em casa constipado durante uma semana não compensa a vantagem de essa nota nunca ser tocada noutro espaço, porque o espaço dessa nota é a tua escala musical, não a deixes fugir!

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  2. gosto muito (:

    sentia-me muito assim, antes, e conseguiste descrever aquilo que eu deixei numa folha vazia. mas então apercebi-me que os "mas" nunca são nada, comparados a um olhar, um gesto. apercebi-me que a vida é mais do que um defeito, dois ou três. a vida é todos os dias e de nada vale enche-la de protestos!

    agora, tenho de anotar, que embora o texto prenda a leitura, tenta fazê-los um pouco mais breves, porque ao olhar, parece um bocado cansativo de ler devido à sua extensão. ^^ (assim como este comentário)

    mas adorei, escreves muito bem (: *

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  3. Dou-me a ti no silêncio, naquele toque que ainda está gravado em mim como "a luz em papel fotográfico"e tu nem percebes como o meu coração, cada vez mais desprotegido e fraco de tanto resistir, se enche de possibilidades e reconhecimentos de algo transcendente quando me apertas com força a mão fria.Oh , adorei ^^

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deixa tu também letras soltas no caminho