Voltei a escrever-te depois de todo este tempo de ausência crua, nua e palavras sem sentido aparente. Volto a debruçar-me sobre a mesa, com um papiro na mão e um carimbo do lado. Tirei o sangue que derramei um dia em lágrimas por ti e preparo-me para começar aquilo que terá a nossa marca. Desculpa se muitas vezes te desiludi. Se muitas vezes fui o que menos querias, se tirei a vontade imensa que outrora tinhas de me agarrar. Desculpa-me, e lá estou eu a divagar. Vivemos juntos durante um ano e sete meses, daqueles tempo que não trocaria por nada, mas que um dia foram abaixo e me fizeram chorar. E então eu senti-me na necessidade de me refugiar, porque tudo o que te diria parecia em vão. Crias-te uma muralha em torno do teu coração e não me deixavas entrar. Eu trepei-a , eu magoei-me em todas as farpas que as tábuas que fazia de escada portavam e eu chorei, encostada a este lado da pedra fria, sem saber se estarias desse lado. Encostei a minha mão procurando a tua e ela não apareceu. As tuas palavras não podiam passar por cartas longas e com uma letra bela e imensa, não há um fundo de uma porta, é um pedaço de pedra, um muro oval e tão cruel. Estás aí dentro, não me importei ter ficado cá fora, mas não te quis sozinho aí.
Tu preferiste que fosse eu a ficar cá fora, talvez porque no fundo sabias que eu, tua mulher, seria incapaz de me ir embora. E tinhas razão, mais uma vez a tua sabedoria fez de mim prisioneira sem paredes. Porque antes de ires embora, não me deixaste trazer o meu coração. Ficaste com ele. Sim, enquanto dormíamos eles trocaram as posições que desde que nascemos ocupavam. Eras a minha metade. Nunca nos chegamos a dividir mas sim a criar uma união , uma coesão frásica, daquelas que até podem ser perfeitamente inquietas, mas também das mais bonitas.
Vi-te sair do muro, por outras razões, razões mais fortes que eu, talvez. E ousaste dizer-me que nunca dele saíste. E nem assim eu fui embora. Porque aquilo que me levava a ir era mais fraco do que aquilo que me fazia ficar. Sempre foste o peso máximo na minha balança, o meu coração inclinou-se sempre para ti. Viu em ti aquilo que nunca outrora vira em mais ninguém. Fizeste-me entender o que anteriormente jamais entendia e no final, dei um erro, um erro ortográfico tão grande, mas tão grande. Daqueles erros que o professor se queixa sempre que nós não agimos. E não falei. E foi o maior erro ortográfico na escrita do meu coração! Deixar-me calar, como sempre pedirias silêncio. Mas hoje quem te pede esse silêncio não sou eu. Porque eu não gosto do silêncio constrangedor. Só o fechar das cortinas, um aplauso, uma rosa caída no chão castanho tingido agora a vermelho. E o silêncio, encontramo-nos por de trás das longas cortinas e amarmo-nos, uma última vez, como se fosse a primeira.
uao *.* está perfeito Isa, para não variar!
ResponderEliminarDevorei. :P
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