(antes de mais, este texto é insano, e foi escrito para tudo menos para fazer sentido. de qualquer forma, fica aqui.)
ela, jovem e comprometida, e ele, menos jovem por comprometer. nela douravam os cabelos loiros como tardes primaveris, nele se destacava a pele clara, onde o inverno se transformara. cruzaram-se por ventura no funeral dum pobre coitado, que lhe valeu o destino, de peripécias recheado! e em tal ambiente de luto, os dois jovens se encontraram, atrás da mortuária, os primeiros amores trocaram:
"rapariga, pára de me beijar assim, se o teu noivo descobre, dá cabo de mim!"
"e que te importa, rapaz? o que está feito não é de voltar atrás."
e os dias passaram, enquanto ela contava pelos dedos da mão, ele gravava saudade no seu coração. desconfiado, o noivo da donzela investigou, e os seus mais secretos conhecimentos usou. e quem diria, amigos meus, quem diria, de quem a culpa seria? esse sacristão malvado, que por 2 contos de rei, desgraçou o destino do casal enamorado! enfurecido mas perspicaz, o noivo traído elabora um plano mordaz! passam os dias, e chega-se domingo, a alegria da missa e as tardes no pingo! acorda excitada a donzela pecadora, e sem perder um segundo, penteia as tardes primaveris até ao fundo. óh, belos cabelos lembraram o jovem, que fez a barba como um verdadeiro homem. ao chegarem à igreja, os olhares trocaram, e em suas apaixonadas cabeças, logo magicaram!foi o triste do noivo quem não achou engraçado, que se preparou para activar o plano traçado. ao tocarem os sinos disse ela:
"amor meu, deixa-me ir ali, isto de ser mulher faz-me imenso xixi!"
"vai queridinha, vai lá meu coração." (e mal sabia ela que este xixi ia dar confusão...)
ao chegar à mortuária, diz-lhe o amante com excitação:
"vem comigo minha flor, que aqui está calor!"
"vamos rápido minha maçãzinha, que vem ali uma vizinha!"
e com uma corrida e umas risadas, estavam finalmente de mãos dadas. ai, que saudades! apertaram-se e beijaram-se, como se não houvesse amanhã, ela, jovem flor, e ele - a maçã. de repente ouviu-se um grito, ficou logo tudo aflito:
"SUA TRAIDORA, e eu apaixonado por uma sem-vergonha pecadora!" (disse o noivo agitado)
"amorzinho, isto não é o que parece! é uma confusão da tua cabeça, esquece!"
"mas por quem me tomas, minha rameira? um como esse, à tua beira?"
e com tal escabeche, juntou-se uma multidão: eram homens e mulheres, o padre e o sacristão.
"valha-nos jesus cristo, que ninguém esperava isto!" (diziam as velhas)
e sem tempo para acabar, o noivo saca de uma arma e toca a disparar! vejam lá o azar, entre estes despejos de loucura, no jovem apaixonado acabou por acertar! óh triste destino, não são fados justos para um jovem menino! vista esta desgraça, a donzela deu em chorar, e sem se aperceber do estrago, o noivo continuava a gritar. que horror, não queiram imaginar, quem tenha estômagos fracos, é melhor nem pensar. morto e avermelhado, jazia o amante no meio do chão, e a pobre donzela, com as mãos no coração!
"mata-me a mim também" disse a moça sem hesitar "sem este meu amor, nem vale a pena continuar!"
"mas eu amo-te meretriz, ainda te deixo voltar, desde que me prometas, claro, que não te voltas a deixar levar" (disse o noivo, também ele a chorar)
incompreendida e cheia de dor, olhou em seu redor. tudo muito assim-assim e uma tesoura para podar o jardim. sofredora e apaixonada, correu para o objecto, e num golpe só - ZÁS! - matou-se a tresloucada. toda a freguesia contemplou tal acontecimento, e poucos eram os que acreditavam no que viram no momento. era deste amor fatal, os livros que o senhor emanuel vendia, na rua principal. e jazem ainda hoje, os eternos amantes num túmulo bonito cheio de velas brilhantes.
(e dizem vocês: morreram estes dois... mas e então o noivo? esse morreu atropelado, por uma carroça dos bois, uns dias depois.)