O amor das nossas vidas vem sempre para ficar. Desarruma tudo, rouba tudo, sapatinha tudo. O amor das nossas vidas é um filho da mãe dos piores e deixa-nos sempre de joelhos no chão suado, cabelo espigado e olheiras de noites passadas em branco. O amor das nossas vidas é mesmo assim e não pode ser de outra forma porque, se o fosse, não o era. Passo os dedos pelo cabelo afastando pequenos cachos da frente dos olhos. Dou meia volta, ponho as mãos dentro dos bolsos das calças de ganga clara e abandono a cabeça para trás até encontrar a parede. Fecho os olhos e ouço os carros lá fora, a agitação natural da cidade apressada. Penso em ti. Penso muito em ti. Vi-te e tu viste-me. Vi o teu sorriso e tu viste o meu, sorrisos que não eram a nós dirigidos, que disfarçavam palavras entaladas e lágrimas sufocadas, sorrisos de circunstância, gestos que sobravam daqueles que nos acompanhavam. Sorriso teu que eu tenho decorado em mim como quem deixa uma cassete a gravar para nunca perder aquele episódio inesquecível. E há um fosso entre nós, uma muralha. E não te posso ouvir e tu não me podes tocar. E o meu coração torna a descompassar, a gritar e a rasgar veias e artérias. E vejo-te ir, como vejo sempre, porque tu não foste feito para ficar, para permanecer. Vejo-te abandonar o alcance dos meus olhos, provavelmente atrás de um amor da tua vida a part-time, alguém que, ao contrário de mim, se sujeite a horas vagas, a horas gastas.
O meu querer de ti é transcendente, é desumano e irracional, é proibido e insano, é alcoólico e irreversível. Enervo-me muito, sacudo a cabeça e aperto os olhos. O amor da minha vida não devias ser tu e eu não devia estar agora de joelhos pelo chão suado, não devia ter o cabelo espigado e olheiras de noites em branco. O amor da tua vida não sou eu, não é ninguém. Suspiro de alívio. Chama-me egoísta mas, ao menos assim, posso culpar o teu atraso emocional e não o meu amor próprio.
Os amores das nossas vidas, se não nos servem, deviam eclipsar-se do nosso coração e não ficar no lugar das memórias vivas, das memórias diárias.
O amor das vossas vidas não devia ser como o meu.
"O meu querer de ti é transcendente, é desumano e irracional, é proibido e insano, é alcoólico e irreversível." o teu querer é igual ao querer de quem ama!!!
ResponderEliminarbeijoca grande *** J.M.
texto brlhante (: pela forma suave como escreves frustração!
ResponderEliminarsdorei mesmo =)
ps. by the way, no fim, "O amor das vossas vidas não deviam ser como o meu", em vez de deviam devias ter devia, porque o verbo é em relação ao sujeito, e o sujeito refere-se ao amor das vossas vidas, que é singular, apesar de denotar um conjunto plural de pessoas.
adorei o texto :)
ResponderEliminartambem nao devia ser como o meu --'
está lindo :)
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