terça-feira, 12 de abril de 2011

São vidas.

Gostava de saber que mundo é este onde é preciso gozar com os outros para nos sentirmos bem.
Não que me oponha ao escárnio, a vários mal-dizeres tão saudáveis que até, ou deveriam, fazer rir a própria pessoa visada (não há por aí muito amor-próprio para tal).

Que raio de mundo este onde só nos colocamos no lugar do outro depois de as palavras já terem saído a sete pés da nossa fossa bocal (perdão, boca. A merda está na cabeça).

Sempre me disseram para eu não fazer aos outros o que não quero que me façam a mim. Consigo imaginar a pessoa que disse isso... de certeza que morreu cedo. A bondade pode matar-te e este mundo tornou-se uma local de guerra.

Com apenas 21 anos vividos apercebo-me do podre em que constantemente vivemos. Gostava de perceber em que ponto da História passámos a valorizar mais a zombaria em detrimento da valorização pessoal de cada um.

As pessoas deixaram de se aperceber que aquele azeiteiro ali pode-se sentir bem com o que veste e vive bem com isso. Deixaram de se aperceber que aquela a quem chamam "gorda" sofre todos os dias por não conseguir emagrecer apesar dos esforços. Deixaram de se aperceber que toda a opinião tem valor (nem que seja o valor de merda). Deixaram de se aperceber que o silêncio pode fazer a diferença. Deixaram de se aperceber que aquela pessoa que todos apelidam de "feia" e que constantemente discriminam pode ser alguém de uma beleza interior inigualável, de tal modo fascinante que nos faça ser mais, melhor e nos entorpeça de tão apaixonados que podemos ficar. Deixaram de se aperceber que discriminam mesmo involuntariamente porque não são capazes de viver com a diferença. Deixaram de olhar para dentro de si próprios preocupados com o mundo lá fora. Deixaram. A sub-leveza do ser...

Confesso. Muitas vezes deixo de responder a bocas ou provocações, não porque não tenho resposta, mas simplesmente porque penso não valer a pena descer tão baixo. Talvez ninguém se aperceba da importância dos pequenos pormenores. Talvez nem haja muita gente a dar importância a pequenos pormenores.

Uma coisa é certa. Todos os momentos contam e todas as nossas decisões, actos e acções fazem diferença.

Eu não me importo de ser gozado. Não mesmo. E rio-me nas vossas caras pelo facto de me tornarem objecto de gozo.
Não me afecta... aliás, afecta mas não me deita abaixo! Ficar mal seria dar importância. E importância é coisa que não se dá a quem não merece. Afecta simplesmente ao ponto de me sentir obrigado a escrever este texto.

Deixem-me acabar explicando-vos uma coisa. Tudo deixa marca. As pessoas podem perdoar, mas não esquecem.
E as desculpas não se pedem, evitam-se.

13 comentários:

  1. E pior do que o fazer inconscientemente é ter noção de que podemos magoar alguém com as nossas palavras e ainda assim continuamos.
    Pior é ver que cada vez mais se precisa de inferiorizar os outros para nos valorizar a nós próprios.
    Pior é isso afectar verdadeiramente alguém e isso marcar inevitávelmente a sua vida.
    Pior mesmo o pior é que: 'Tudo deixa marca. As pessoas podem perdoar, mas não esquecem.'

    ...não esquecem ainda que pareça que sim!

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  2. Desta vez sou eu q digo "Lindo... :x".

    Boa, Nuno!

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  3. gostei, mas eu seria mais radical do que ignorar os que nos gozam. eu diria que o que nos faria mais felizes, seria amá-los! é isso que tento fazer, e tem dado um resultado incrível na minha felicidade!

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  4. Nossa, texto muito lindo mesmo, falou muito, e concordo demais com o que relatastes !!
    estás de parabens pelo blog
    Estou te seguindoo

    Passa la no meu blog quando quiser ;P

    http://essenciaego.blogspot.com/

    Bjoo

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  5. "Talvez ninguém se aperceba da importância dos pequenos pormenores. Talvez nem haja muita gente a dar importância a pequenos pormenores."

    Está tudo dito!

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  6. Você não é o cara do blog 30 dias pra morrer? Você diz lá que vai se suicidar e cria um novo blog?

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  7. Suicídio? Não combina comigo. Não mesmo. Sou um sortudo, felizmente :)
    Embora suicidar-me e criar um novo blog seja um bocado estranho xD

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  8. É por textos assim que ainda tenho esperança de haver muitas pessoas que não são estúpidas, que eu é que ainda não encontrei uma boa parte delas.

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  9. Ah, e, Flor de Maio, esse blogue é do Pedro Miguel, outro contribuidor deste blogue. É óbvio que esse blogue é meramente artístico e criativo. Nem todos encaram os blogues como diários.

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  10. No final de todas as partes invariavelmente más anexadas ao bullying pode também existir uma mínima parte que em alguns casos forma pessoas, constrói-lhes uma extraordinária capacidade de resistência e educa-as para serem mais do que seres vivos, para serem seres humanos e cívicos.
    Mas é óbvio que concordo contigo, e que não existe qualquer desculpa para este absurdo.

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  11. É pena que textos como estes não sejam lidos por toda a gente, talvez alguns conseguissem perceber a mensagem e passar a pensar duas vezes antes de gozar com quem quer que seja.

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deixa tu também letras soltas no caminho