domingo, 3 de julho de 2011

Once upon a time.


Era sexta feira à noite. Ambos tinham compromissos marcados mas de certeza que ninguém ia levar a mal a sua falta. Naquele momento só ela interessava. Só ele existia. Tantos anos passados naquela cidade e nunca tinham reparado como aquele parque era bonito. Era grande, estrondoso. A variedade de árvores, os pequenos bancos de jardim que pareciam propositados para os casais, o lago habitado por todo o tipo de animais. Ele deu-lhe a mão, estavam sozinhos. O medo que era devastador perante tamanha multidão, reduziu-se a um nada embora ela ainda o amedrontasse mais que qualquer pessoa no mundo. “Tenho que enfrentar o que me inibe”. Ela não levou a mal, na verdade, ela também o queria mas não era capaz de lho dizer. Trocaram olhares. Era a segurança que os dois precisavam. A partir daquele pedaço de calçada, da frondosa acácia que os cobria, o mundo era deles. Não havia tempo. Não havia espaço. Havia sim, um ele e uma ela. Um nós! A conversa já ia longa. Já nenhum precisava de falar. Ambos se compreendiam no silêncio das almas. Quais inocentes!?


Chegaram finalmente ao destino. Um pedaço de relva no meio da imensidão do verde. Era só o que eles pediam. Mesmo à sua frente jazia o lago, morto, vivo! Por vezes notavam-se umas leves vibrações ao cimo da água, peixes enamorados de certeza. O amor é contagioso. Ninguém reparou mas nas suas costas desabrochou a mais linda das flores. Viram que ao seu lado estava um barco, longe dos seus tempos áureos. Apesar de já carcomido pelas térmitas e pelo musgo, dormia. E nem eles ousaram perturbar o seu descanso.

Tantas vezes ele tinha pensado naquele dia. Queria que fosse tudo perfeito. Ela merecia. Ele queria-lhe dar tudo e ainda mais um pouco. Passou-lhe a mão pelo rosto. Sentiu cada fresta do seu rosto. Cada nota. Tocava no nariz soava a um mi. Nas bochechas parecia mais um lá. Passou-lhe os dedos pelos lábios e não soou a nada. “Estranho…”, até ele fechar os olhos e escutar. Era como se metade dos habitantes daquela cidade se tivesse juntado para gritar “Beija-me!” em uníssono. Mas não. Eram mesmo aqueles dois marotos, vermelhos, sedutores.


Chegou o esperado momento. Tinha que ser. Nenhum deles conseguia esconder o enorme desejo que os atravessava. Era isso que os fazia viver. Os lábios um do outro. E ambos tinham sede de vida.

É estranho como tudo o que nos parece morto e não nos diz nada por momentos nos dá o mundo. O barco acordou com o leve entrechocar de lábios, espadas tais!, barulho sem igual. O tráfego de pirilampos aumentou e virou tudo um jogo de cores. Quem estivesse por perto perceberia perfeitamente que o coro de grilos começou a trautear uma das mais lindas músicas, enquanto a cigarra cantava o seu solo “Kiss me, Oh kiss me!”. Das profundezas do lago emergiu um mar de bolhas. O lago também se ria. E já não era a primeira vez que ele assistia aquela cena. Tinha perfeita noção do que a sua presença podia fazer por alguém apaixonado.

Ele meteu-lhe a mão na barriga e começou-lhe a fazer cócegas. Interrompeu o momento deles. Mas não faz mal. Já tinha acontecido e não tinha chegado ao fim. Ela adorou. “Perfeito.” pensou.


E naquela noite, o dia foi só deles.

4 comentários:

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