sábado, 6 de agosto de 2011

não podia ser sempre assim

Todos os dias acabava por fazer a mesma coisa, levantava-me, ia até ao espelho e verificava mil e uma vezes antes de te encarar nesse teu mundo incapaz de penetrar, se o meu sorriso estava no lugar, às vezes, quando me apercebia que já estava mais descaído, voltava atrás e lá tentava de novo instalar essa tão dura expressão em mim. É cansativo tentar colocar-te como se ainda tivesses vida em mim, é um projecto condenado ao fracasso, no inicio foi até entusiasmante e encheu-me da luz que tu levaste, mas dia após dia, apercebi-me que isso não ia trazer o teu orgulho de volta. Não era por agora, que já não estás, e que finalmente deixei de ser um merdas, que tu vais gostar de mim. Sempre fui o típico tipo do estou-me-a-cagar-para-isso e foi o que te desiludiu, querias que te fizesse frente, que me impusesse, mas eu fazer tudo isso agora não te vai trazer de volta. Às deixo-me a imaginar se não podíamos ter sido diferentes, abraçar mais vezes, falar mais vezes, mas percebi que isso quebraria tudo o que somos, e hoje liberto-me da tentativa de impugnar a tua memória em mim. Não podia ser sempre assim, não podia correr sempre ao tentar ser como tu. Hoje quando acordar, vou ter a certeza que não estive apenas a sonhar, vou largar o fato, pendurar a gravata, deixar os jornais de economia na papelaria e vou calçar uns ténis, vestir uns calções, e voltar a ser aquilo que tanto tentavas odiar e amavas em mim - uma criança.

1 comentário:

deixa tu também letras soltas no caminho