quarta-feira, 24 de junho de 2009

Fogo de artifício


Olhava a noite, barata tonta em casa alheia com a família reunida a festejar uma festa qualquer que a mim me passou ao lado. Vi balões suspensos por uma chama que eu também já tive, uma chama que tu me deste um dia e que, mesmo um pouco extinta, ainda se conserva no meu peito. O Douro esperava também por mim. Chamou-me algumas vezes, assim como os amigos mais chegados. Eu disse que não, que não estava com disposição. E não estava. Vocês sabem lá o que é rir com o coração ferido, forjar estados de espírito agradáveis quando as lágrimas doem ao sair. Não, eu não queria festa, queria aquilo, a família junta, aconchegada no ar ameno do Verão recente. Afastei-me um pouco deles, apenas para ouvir o meu próprio pensamento. Falava muito de ti. Tu estavas, seguramente, festejando essa festa que a mim me passou ao lado. Convites? Tive-os, mas recusei-os. Tu sabes lá o que me fizeste, sabes lá o que é rir quando as lágrimas secam e não saem. Não, eu não estava com disposição, não queria martelinhos coloridos na cabeça, muito menos multidões enamoradas. Afastei-me um pouco mais, era quase meia-noite. Apreciei um fogo preso, próximo do sítio onde me encontrava. Os meus olhos não pestanejaram em resposta às cores e efeitos impossíveis que eu via formarem-se diante de mim. Deixei-me levar pela música que se ouvia na rádio , lenta, suave, apaixonada. A noite caía quente, acompanhada de uma brisa floral. O fogo não cessava. Estive ali muito tempo, enfeitiçada por cores impossíveis, tal e qual o nosso amor, pois também ele é colorido e impossível. O Douro esperava por mim, cantando nas águas promessas perfeitas. Mas eu fui para casa, recolhida ainda em tristeza e desolação, talvez pena.
És fogo de artifício que me rebenta nas mãos amputando-me o corpo.

5 comentários:

  1. Mara, Mara, Mara... Posso fazer alguma coisa? :| *

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  2. "Vi balões suspensos por uma chama que eu também já tive"
    "És fogo de artifício que me rebenta nas mãos amputando-me o corpo."

    só quem nunca amou é que nunca sentiu esta sensação!

    há uma magia imensa nas tuas palavras, adorei (o texto, não a dor).

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  3. "És fogo de artifício que me rebenta nas mãos amputando-me o corpo."

    MEU DEUS! Está... DIVINAL!

    adorei *

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  4. parabens muito bom o texto.
    Ótimo teu blog, gostei daqui,.
    Maurizio

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