A Branca de Neve não viveu feliz para sempre.
Não acredito na força do destino neste caso, não acredito que ela estivesse destinada a casar-se com o Príncipe Encantado e viver numa felicidade eterna.
Imaginemos a princesa adormecida no caixão de vidro à espera da salvação. Em primeiro, porque é que estamos sempre à espera de ser salvos de alguma coisa? Até de nós próprios em dias que nos detestamos profundamente?
E se o destino alterasse as suas rotas e o Príncipe não aparecesse? Nunca se teria apaixonado à primeira vista (também isso nunca acontece) por uma rapariga supostamente morta. E a Branca de Neve permanecia intacta, sem nenhum toque. Ou teria morrido de vez por sufocação ou teria acordado, engasgada pelo pedaço de maçã que tinha comido.
Farta de estar adormecida para o Mundo, saí do seu caixão de vidro e percorre um longo trilho até à grande cidade. Nunca viu nada tão belo, tinha estado fechada durante toda a vida no castelo sob as saias da madrasta e nunca tinha sentido o verdadeiro sabor da amizade.
Rapidamente, compra roupas novas e de marca (realmente as montras aliciam qualquer um) e muda radicalmente de penteado. É incrível o desespero do ser humano em mudar-se superficialmente para se sentir bem e nada melhor para a princesa do que mudar o exterior. O interior sempre foi vazio até ao dia em que conhece uma nova espécie de príncipe.
O Príncipe que a seduz num bar onde os fumos e os cocktails fazem parte do ambiente. Pobre coitada que nunca soube o que era a vida, já que a inveja da Madrasta a tinha feito andar escondida do Mundo e é dada como carne fresca no antro de perdição. O vazio no interior acaba por ser preenchido por todos os tipos de Príncipe numa cama mais próxima.
Mas no final de tudo, ela é feliz.
O que é completamente diferente de viver feliz.
Encontrou a felicidade porque não ficou a viver na ignorância para toda a vida, não suportou os caprichos de um homem que mal conhecia e que acreditava estupidamente em amor à primeira vista. E principalmente, aprendeu com os pequenos erros. Dormiu com muitos Príncipes e quê? Conheceu o podre da cidade e quê? Continua feliz.
E já agora, um dia destes vai engravidar com inseminação artificial.
Quem mostra às crianças estas histórias de encantar, mostra-lhes apenas aquilo que a vida NÃO é. E com isso consegue o quê? Nada, apenas fazer com que a criança se iluda!
ResponderEliminarComo sempre, David, fenomenal. De resto, sabes qual é a minha opinião pelo que leio de ti :) *
Bom tema :)
ResponderEliminarPouca gente se teria lembrado de falar sobre isto.
E ri-me no final =)
beijinho David*
LOOOL! As tuas críticas são sempre óptimas, David.
ResponderEliminarAdorei x) *
gostei, muito bom mesmo!
ResponderEliminarporém, devo dizer que a inocência e a ignorância também nos dão felicidade. Se tiveres tudo de bom que conheces és feliz. Podes não ter muitas coisas, mas se não as conheceres, não te fazem falta. E não tens aa dor.
No fundo, a questão é: é melhor viver com felicidade mas sem consciência do mundo, ou felicidade/infelicidade relativa e que varia de momento para momento, mas com a consciência do mundo?
Eu escolho a consciência: quero viver tudo, mesmo que por vezes magoe.