Braga, 22 de Maio de 2011
Querida Índia,
Passou-se um ano, um ano inteiro desde o dia em que não te perdi.
E hoje, hoje voltaram a correr pelo meu rosto as mesmas lágrimas desse dia - gélidas e sufocantes.
Hoje, minha querida, voltei a lembrar-me de tudo o que te dei e de tudo o que me deste.
Lembrei-me dos sábados de manhã em que chegavas, sempre com a tua mãe.
Lembrei-me da forma como se despediam e de como sorrias quando ela te dava um beijo na testa.
Lembrei-me de como te dirigias então para mim, sorridente.
Lembrei-me que me entregavas o catecismo e me contavas sempre uma ou duas novidades antes de te juntares aos outros para brincar.
Lembrei-me que quando chamávamos para dentro, eras sempre das primeiras a vir ter connosco.
Lembrei-me das catequeses.
De uma vez em que disseste, na oração, que gostavas muito de Jesus, porque era o teu melhor amigo.
Então lembrei-me de to ter apresentado.
Lembrei-me do sorriso com que nos ouvias, sentada quase sempre no mesmo lugar.
Lembrei-me de como ficavas calada enquanto falávamos e das coisas tão certas que dizias.
Lembrei-me de como eras bonita.
Lembrei-me de como os teus olhos brilhavam.
Lembrei-me de como gostava de ti.
E parei; sorri e disse: "de como gosto de ti!"
Depois calei-me.
No silêncio, voltei a ouvir a voz do André a contar-me a notícia.
Voltei a ver a notícia da tua morte nalgum jornal online.
Voltei a ficar parado e a reler cem vezes na esperança de que fosse mentira.
Voltei a chorar, sem saber se se abriria de novo o sol.
Voltei a sentir que podia ter feito mais.
Voltei a chorar mais uma vez.
Voltei a imaginar a tua face em pânico quando tudo aconteceu.
Voltei a sentir raiva e revolta com o teu pai.
Depois acalmei.
Sentei-me de novo em frente ao teu caixão, junto ao da tua mãe.
Voltei a estender a mão sobre o teu, tocando-o levemente.
Voltei a pedir ao nosso Amigo que tomasse bem conta de ti.
Voltei então a ter a certeza de que Ele te segurava no colo.
Prometi-te de novo que falaria contigo todos os dias.
E aí sorri.
Lembrei-me das nossas conversas diárias em que reoiço o teu riso.
E calei-me.
Porque já não sei se ainda tomo conta de ti.
Ou se já és tu que tomas conta de mim.
Olhei de novo a tua fotografia, na parede do meu quarto.
Calei-me.
E no silêncio ouvi-te respirar.
Passou um ano inteiro desde aquele dia.
E hoje eu continuo aqui Índia, ao teu lado,
Um grande beijinho e um abraço apertado,
do teu catequista,
Nuno
até me vieram as lágrimas aos olhos :x gostei muito. mesmo.
ResponderEliminarRIP
Fuck isto mata.
ResponderEliminarSou catequista, se algum dia acontece alguma coisa aos meus meninos, é como se me acontecesse a mim. Eles que me vem sempre abraçar, eles que tem todos aproximadamente 9 anos me ensinam muito mais do que muitos adultos. Eles que me fazem sempre sorrir e porque todos juntos temos das melhores relaçoes que existem. Eles são grande parte da minha vida, se lhes acontece alguma coisa a algum deles, levam parte de mim.
Juntos crescemos todos.
e só no facebook e que percebi que isto se tinha passado contigo, inicialmente pensei que tivesses tirado de algum lado ='
ResponderEliminarEstá lindo ;|
Lembro-me de ter lido este texto um ano atrás e de não ter tido coragem de comentar.. faziam 4 meses que tinha perdido alguém realmente importante para mim e isso ainda me corroía.
ResponderEliminarE lembro-me, agora, do teu sorriso ontem. A cada momento. E penso... penso que poderias estar já com um nó no peito pelo dia que se avizinhava.. e isso dói-me. [Tenho uma mania descomunal de querer salvar as pessoas!] E penso que durante todo o dia nem um abraço molhado te dei :)
Voltei a ler o texto (os dois!) e penso nos meus "meninos", no quanto gosto deles e no quanto não me perdoaria se algo lhes acontecesse. Amo-os demasiado. A todos. Mesmo aqueles que todas as catequeses me irritam e me dão vontade de desistir. E lembro-me que já o fiz. Já desisti deles. Desisti este ano. Embora tenha desistido apenas porque o horário deles não era compatível com o meu... mas não importa. No fundo, gosto deles do jeito que são e sei que eles sabem disso. Eles demonstram-me isso!
E Nuno, força.
Sei que ela está a olhar por ti. Sei que ela não se esqueceu de ti e sei que lá no alto, no colo de Jesus, ela sorri. Sorri porque sabe o quanto a amas e o quanto gostas de a saber sorrir. E talvez seja como na história do principezinho e tu tenhas uma estrela que ri :)
Nono, lê este.
ResponderEliminarhttp://feachgeal.blogspot.com/2010/02/coracao-de-porcelana.html
Sparking, sparking que arrepio, que aperto descomunal!
ResponderEliminarJá li algumas cartas tuas, Nunola. Tive esse prazer.
ResponderEliminarMas acho que nunca li uma tão bonita como esta. A Índia adorou-a, de certeza. E escreveu-te uma ainda mais bonita! Mesmo que ainda não a possas ler :')
(pois já leste, e tenho uma em atraso para te mandar, ando com pouco tempo, desculpa :x)
ResponderEliminarMas eu vou ler essa carta que ela me mandou, eu sei que vou (:
(trabalha, masé Nunola! :P Eu já te disse que não tenciono mudar-me.)
ResponderEliminarEla sussurra-ta todas as noites. Escuta, escuta. :)
(vá, eu vou tentar ser rápido :D )
ResponderEliminarEu falo com ela todos os dias, todos todos todos!
(sim, chefe :P)
ResponderEliminarÉs um tagarela! :')
(:D)
ResponderEliminarpois sou, que se há-de fazer!