quinta-feira, 15 de março de 2012

Amote

Um dia, não um dia qualquer, um dia. Dei comigo parado, a sorrir de banda, enquanto corrias no meu encalce. Nunca te tinha dito aquela estranha palavra. Aquela que todos dizem, às vezes só porque sim. Porque sim sem razão nenhuma, não lhe rouba o que tem de verdadeiro. É só porque faz sentido ali e agora.

E assim foi. Sem olás nem bons dias, saiu um pequeno amo da minha boca. Um pequeno, pequenino, lutador, sufocado pela timidez. Infelizmente, para mim, a palavra amo-te têm um hífen lá pelo meio. Um belo de um hífen que não passa de um pequeno traço de escrita, que nem se nota quando falamos. Mas naquele momento notou-se. Foi um pequeno amo que me permitiu respirar antes de te dizer o resto. E dizem que se não se disser nos primeiros três segundos, não se consegue dizer mais. Eu não consegui. Nem nos primeiros três, nem nos restantes quando ficaste à espera de saber o que me enche o coração. E eu não fui capaz de dizer que és tu.

Vou riscar a palavra da minha cabeça e inventar uma nova. Uma sem hífen. Até posso roubar o hífen à que já existe. E assim fica, um amote sem hífen, dito de uma vez só, sem respirar. Um amote sem nada que o separe no meio para nos roubar o ar todo de uma vez. Um amote.

2 comentários:

  1. Engraçado que há já algum tempo atrás vi texto do Fernando Alvim sobre o 'Amote ou a grafia dos afectos'(este:http://esperobemquenao.blogspot.com/2011/08/amote-o-grafia-dos-afectos.html)
    E fiquei enternecida porque o amo-te assim separado não tem graça porque a verdade é que o dizemos sem respirar porque quando amamos verdadeiramente alguém não há espaço para mais pessoas, não naquela relação. E quando dizemos amote deve ser dito sem hesitar, sem respirar e todo de seguida. Assim. :D

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deixa tu também letras soltas no caminho