sexta-feira, 17 de junho de 2011

Surpresa no anzol.

Ela chamava-se Margarida. Ele Nuno. Ele pediu para se encontrar com ela. Ela tinha estado com ele durante aquele tempo todo. Ela amava-o e ele aprendeu a amá-la. Mas até àquele momento, a vida tinha-lhes roubado todos os momentos para, com lápis e borracha, desenharem os melhores sorrisos na cara um do outro. E assim foi. Ela foi a correr ter com ele, como se fosse uma criança, com um sorriso parvo na cara. Iam estar juntos, pela primeira vez, apenas os dois, longe de tudo e de todos.

E assim o viu. Ao longe. Sentado na doca, à beira da água, com uma cana de pesca na mão e a sorrir para o mar. Sabia bem aquele cheiro a maresia. Chegou, tapou-lhe os olhos, sussurrou-lhe ao ouvido Olá meu anjo e deu-lhe um beijo adocicado, sabor doce que provavelmente assustou os peixes da redondeza.

Falaram de mil e uma coisas, longe de tudo e de todos. De mãos dadas, ela olhando a cana de pesca presa que, coitada e infeliz, azarada não tinha ainda conquistado nenhum dos peixinhos e ele olhando para ela, como se fosse a última coisa que ia ver naquele mundo, com um brilho nos olhos, brilho acentuado pelas lágrimas que começaram a cair. O que foi? Que se passa? Estava só a olhar para ti e a pensar como vai ser difícil deixar-te. Deixar-me...? Sim... Aconteceu uma coisa muito importante e eu vou ter que viajar. Amanhã. Não te posso dizer para onde nem quando volto, mas prometo que te mando um postal quando lá chegar. Está bem, vai...
Ainda não tinha mordido, mas ele puxou a linha na mesma. Trazia uma pequena caixinha na ponta. Caixinha esta que só poderia ser aberta amanhã, segundo ele. Caixinha esta que continha nada mais nada menos do que fotos dos dois juntos, do tempo da escola. E outras. Seis delas, juntas, escreviam a palavra amo-te. E um envelope.

Caída a noite, embrulhados numa manta, fizeram amor.
O peito dele foi a almofada dela naquele sono. Ele não conseguia dormir. Só pensava nela. Nela e naqueles lindos olhos azuis. Nela e naquele cabelo que cheirava a amêndoas e mel. Nela e naquele coração que batera rápido na hora anterior. E sentiu-se bem. Sentiu-se feliz.
De manhã ela acordou e não viu ninguém. Mas sorriu. Eu espero...
A notícia foi-lhe dada pela mãe dele. Há muito que o irmão mais pequeno estava doente. Ele, já maior de idade, o homem da família visto que o pai já os tinha deixado há muito tempo, pediu ao médico que nada se soubesse. O irmão pequenino precisava de um coração. Ele amava-o, mais do que tudo. Deu-lho.

Abriu a caixinha. Viu as fotos. Viu tudo. Por fim abriu o envelope. Tinha lá dentro um postal. Um postal duma nuvem em forma de pinguim. Nas costas tinha uma pequena frase. Olá pequena. Não te preocupes comigo que eu estou bem. Vive. Chora. Ri. Ama. Estás a ver esta nuvem aqui? Um dia levo-te lá.

No canto, uma pequena Margarida desenhada.

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