quarta-feira, 29 de junho de 2011

D. Duarte.

Era uma vez. Certo dia, quando ainda mal te sabia os passos, pensei em ti e tu apareceste. Foi de uma magia inexplicável que até amarrotei o copo de plástico que tinha na mão. Apaixonei-me pela maneira como falavas e abarcavas qualquer assunto que atiravam à mesa. Os teus olhos percorriam todos os cantos daquela sala e, não fosse a tua maior virtude a perspicácia, encontraram os meus num piscar. E depois, apaixonei-me pela rapidez dos teus dedos e pelos sons que vinham das tuas mãos. A minha barriga cresceu com as borboletas que nos rodearam.

Hoje somos a 3ª pessoa. Ele faz par com ela porque são o Sol e a Lua. Ele é alto, tem as costas largas e o cabelo preto. As mãos são grandes e deslizam perspicazmente. Dos seus olhos emana um verde que reluz nas noites mais frias, brilha nos dias de chuva e clareia nos dias de Sol – o espelho do que realmente os guia, uma esperança infinita. Tem ares de quem sabe do que fala – dizem que sabe mesmo – e sorri da maneira mais subtil. Não gosta da vaidade, mas é da espécie das fénix. Renasceu num ser individualista e independente, contudo do sentimentalismo exagerado. Ela é assim-assim, mas está à medida do seu queixo, pelo menos chega-lhe lá o nariz. O mar cresceu com ela, as ondas no cabelo ladeadas de um fogo que arde sem se ver e o azul-espuma nos olhos. Habituou-se a escrever porque é assim que sonha. É uma personagem do século passado, a quem cabe amar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a alma os separe; e que vive para um altruísmo que a arrasta até à noite. Hoje bate-se com o pé porque se voltaram a ver. O nome dele ressoa nos cantos dos corredores onde se encontraram pela primeira vez. Um par de sofás e um par de almas perdidas à espera de só-mais-uma-aula. Hoje bate-se com o pé porque o Amor se escreve com letra grande e o alarido é feito à varanda. Ela não veste um vestido branco, porque prefere ir com um azul manchado de pintas brancas – da não-formalidade. Hoje dança-se porque ela corre para os braços dele e puxa-o para a varanda. Formam o par real da realidade que é o sonho.

Hoje reclamo o que é meu, porque eu estava lá primeiro. E quanto te vi, imaginei como seria voltar a ser ao teu lado. E porque há sonhos que sabem melhor ao vivo, encontrei-te num banco do rio e sentei-me ao teu lado. Desdobrei a força do abraço que me deste e adormeci ali, ao teu lado. Hoje sorrimos para os que nos admiram – nós mesmos.

Hoje somos a 3ª pessoa. É uma vez nós.

1 comentário:

deixa tu também letras soltas no caminho