Todos nós somos gente. E por sermos gente somos também seres pensantes. E por pensarmos, sentimos. E por sentirmos e saber que sentimos, por termos essa capacidade que somente nos compete a nós na sua imensidade mais genuína, sabemos também que existe um sentimento, uma sensação, que mais nenhum ser consegue captar tão incrivelmente e que nos torna também incrivelmente mais humanos. O amor. É disso que falo. É disso que sou feita, é disso que preciso.
Por muito que o amor seja um paradoxo na sua forma mais pura, provocando desde a maior felicidade, felicidade essa que é inigualável, é capaz também de sufocar-nos, asfixiando o nosso coração, impedindo-o de respirar uma vida igual, a verdade, e sim, a verdade, é que necessitamos dele. Necessitamos dele como necessitamos da natureza, como é fundamental aprecia-la e respira-la, como precisamos da música, como precisamos de escrever, como precisamos de rir, como precisamos de momentos só nossos, como precisamos de ouvir o mar a bater nas rochas, como precisamos de nos deitar na relva para mirar o céu ou mesmo só para sentir a sua humidade e frescura nas nossas costas. A verdade é que nós, os seres humanos, necessitamos primeiramente desta simplicidade da vida. E o amor verdadeiro é isso mesmo. É o conjunto de gestos, de olhares, de sensações, de palavras, de calor, de sorrisos, de intimidade, de choros, de gritos, de alegria, de dor, de partilha, de amizade, de orgulho e admiração pelo outro, de ternura, de cumplicidade, de vazio e de preenchimento. E tudo isto, e tudo o que ainda é o amor, tem por base da sua existência a simplicidade. Porque sem simplicidade nunca existirá amor, e quando amamos verdadeiramente ficamos sempre mais gratos e sentidos se soubermos que alguém acorda antes do nascer do sol só para nos ver dormir e apreciar todos os contornos do nosso corpo do que se nos oferecerem uma viagem pelo mundo fora.
Eu vivo para amar e ser amada e, talvez isso seja um erro porque implica significativamente maiores desilusões e sofrimentos, porém nunca conseguiria ser doutra maneira e eu sei disso. Porque eu já soube/sei o que é o amor e sei que não encontrei maior realização e felicidade sem ser a amar alguém, mas principalmente sentir que alguém que foi meu, me amava por igual.
Se for preciso esperar cem mil anos para acordar de manhã com vontade de viver e sair a sorrir para a rua, então eu esperarei porque eu sei que não há sentimento igual. Tão naturalmente natural e nosso. Sem mais.