O velho ano está prestes a terminar. Aqui bem perto, já espreita o novo que todos desejam esperançosamente.
Quando começamos a aproximar-nos do final, cada um de nós começa a fazer balanços: a ver os momentos positivos e negativos do tempo que passou, a planear o que quer manter e o que pretende mudar...
Mas, afinal, para quê esperar pela aproximação do "fim" para o fazer? E se não houvesse um "novo" início, depois das badaladas sonantes do relógio gigante? E se, depois das doze, no espetáculo de fogo de artifício entre as pontes do Douro, todos os teus desejos não tivessem tempo para se tornar reais?
Irias aguardar pelo fim ou mudar a tua vida a qualquer momento?
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
domingo, 21 de dezembro de 2014
sou grande porque quero ser
2014 não foi um ano fácil. Era previsível, comecei-o de pijama, no sofá, a ver o E tudo o vento levou na rtp1. Com apenas 21 anos, tive uma passagem de ano típica de alguém que já viveu uma vida. E eu com a vida toda por viver.
É, 2014 não foi fácil. Caí de cabeça muitas vezes. Dei por mim sem chão outras tantas. Perdi aquilo que achava que era um grande amor. Fui perdendo amigos. Quase perdi um dos grandes. Tive de deixar aquele que era já o meu lar. Foi difícil. Senti-me sozinha muitas vezes. E quis desaparecer.
Mas, todos os dias, acordei com uma certeza: Hoje só não és feliz se não quiseres. E por muitas cabeçadas que tenha mandado, por muito não que tenham sido alguns dos dias, fui feliz. Mesmo quando tudo me queria manter no fundo, arranjei forças para me levantar e lutar. Por mim.
E é isto. Este não foi, de todo, o meu ano. Mas aprendi muito. Aprendi sobretudo a ser sozinha. Deixei de ter medo do escuro, do silêncio, da solidão. Aprendi a gostar um bocadinho mais de mim. E só por isso valeu a pena.
O próximo ano? O próximo ano vai ser melhor. Não sei porquê, mas quero muito acreditar que sim. Não sou de superstições nem nada do género, mas tenho a crença pateta de que, como vou entrar em 2015 com os meus - os verdadeiros, os que ficaram, os que valem a pena - vai correr tudo bem.
E se não correr não faz mal. Se todos os anos forem tão maus como este acho que me aguento bem à bronca. Afinal de contas, ninguém nunca me vai impedir de ser feliz. Porque eu quero ser.
Em suma: In your face, 2014.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Não
No mesmo instante em que esticaste o teu braço, tremi. Não sei se por receio de te ter tão perto, se pela angústia passada que me causaste, mas tremi. Como se o inverno vivesse em mim, como se as roupas não chegassem para me acalentar de ti. Queria-te tanto quanto uma criança de cinco anos anseia uma guloseima. No momento em que as cartas são lançadas, conseguimos trocar o rumo do jogo. Eu, que há tanto tempo te imaginava ali e sempre soube que seria improvável. Nunca impossível. Aconteceu. Pediste-me para sair de mim, para soltar o cabelo e envergar nessa aventura tua, só tua. Contive os meus impulsos, engoli em seco sem nunca me perder.
Disse não.
A negativa que te salvou. Que me fez crescer dez anos sem ter saído do mesmo sítio. A negativa que me soltou de ti.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
do amor
Estar contigo foi (e é) uma opção minha! Não te escolhi, é verdade. Mas isso só prova que gosto ainda mais de ti. Apaixonei-me por ti porque me fizeste apaixonar por ti. Quando te conheci nem sequer me passava pela cabeça. Mas agora, depois de todo este tempo, a minha maior vontade continua a ser estar contigo. Por favor, entende uma coisa: se eu quero, eu quero! E não posso permitir que estejas constantemente a dizer que não és o melhor para mim. Não suporto que aches que mereço mais ou melhor. Eu não preciso de mais nem de melhor! Eu preciso de ti. Assim, como tu és. Com todos os teus defeitos e qualidades. Com todos os anos, um por um, que passaram por ti. Com tudo o que tens.
Por favor, deixa-me ser feliz. Mas perto de ti.
domingo, 23 de novembro de 2014
adulthood
Tropecei numas gavetas e dei com umas palavras minhas. Parei o que estava a fazer e li-me. Perdi a conta ao número de vezes em que sorri. Aquela não sou eu. Já não. Era uma carta escrita por uma pessoa profundamente triste, profundamente sozinha e - o pior - profundamente apaixonada. Fui mais para trás. Fui ler outras versões de mim, também elas profundamente apaixonadas. E quanto mais recuava mais bonito era o mundo. Mais eram os sempres, mais eram os sonhos de finais felizes. Isso acabou, pelo menos por agora.
E não faz mal. Em versões de mim passadas, a solidão assustava-me. Entristecia-me. Agora acho-a um pouco inevitável. Crescemos e a nossa casa deixa de nos chegar. Mudamo-nos para um sítio maior. Mas vamos sozinhos. E na imensidão dos prédios e dos arranha-céus, no silêncio das viagens e na correria de todos os dias, é inevitável que andemos sozinhos. Não que não possamos voltar ao quentinho da lareira e das conversas até tarde de tempos a tempos. Mas os dias são solitários. That's a side effect of adulthood. And it's okay.
Há algumas noites, no frio de lisboa, se quisesse - se tivesse deixado - podia ter voltado. Digamos que o "amor" - e como odeio esta expressão - bateu à porta. E eu podia ter voltado à versão de mim que acredita em sempres e que sonha com finais felizes. À versão de mim que não se importa de estar profundamente apaixonada. Podia ter agora alguém para me aquecer os pés de noite e para me dar um beijo de bom dia. Mas assustei-me. Tive medo. Bati o pé. Se deixasse entrar alguém será que ainda haveria espaço para mim? Não quis perder a minha sozinhice. É engraçado, mas pela primeira vez depois de tantos anos quero mesmo estar comigo. E com mais ninguém.
Portanto fugi. E consegui. Mas só porque desta vez ele se dignou a bater à porta. Se entrar de rompante...
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
effusus #50 - das feridas
Esta ferida que me fizeste nunca mais se decide a cicatrizar. E muitos vem por ai na tentativa de a curar ou, pelo menos, minimizar, mas ninguém consegue. Não sei se tu conseguirias, mas um dia espero-(te) e desespero(-te). Se o nosso futuro não é ao lado um do outro, então, por favor, alguém que te tire do meu caminho. Ou pelo menos do meu coração.
adoro-te
terça-feira, 21 de outubro de 2014
introdução à vida adulta
Apanharam-me distraída e empurraram-me para o mundo dos adultos. Eu não queria, bati o pé e fiz birra mas quando dei por mim já tinha passado a porta. E não havia volta a dar. Tentei organizar-me e aprender a lidar com este novo universo. Sempre ouvi dizer que não era mau de todo. Resolvi dar-lhe uma oportunidade. Mas no meio das inúmeras conversas em salas de fumo - porque é a única altura em que se pode efetivamente conversar - comecei a perceber que a adultice não difere assim tanto dos tenros anos da adolescência. Sim, agora tinha um horário das nove às cinco e nem conseguia pensar em ir beber uns copos ao final do dia. Estava exausta. Mas, fora isso, depressa fui percebendo que os problemas e os dramas não vão a lado nenhum. Aquelas parvoíces tão típicas dos adolescentes, que levam logo a um "não te preocupes, é só um miúdo, não tem noção do que é a vida" afinal não vão a lado nenhum. A diferença é que agora as conversas têm palavrões como divórcio, separação, sogros, filhos e custódia. Mas continua tudo igual, as pessoas continuam a portar-se como crianças só que agora, no fim, quando tudo falha, é tudo maior. Dói mais. E, no meio das pausas para fumar, sussuram-se confidências como "Dei-lhe sete anos de mim, Inês". E eu encolho-me na minha meninês, nunca vivi nada assim, não tenho direito a falar. Mas, quando chego a casa e dispo a pessoa crescida que ando a fingir que sou, não consigo acreditar nisso. Com ou mais experiência de vida e ainda que pertencendo a mundos diferentes, parece que andamos todos à procura do mesmo. Parece que vamos andar sempre todos à procura do mesmo. Alguém que nos agarre quando o dia chega ao fim e nos aqueça os pés na cama. E isso eu até percebo.
Mas de repente tenho medo, tenho muito medo. Vejo a minha vida a passar-me à frente e não a quero, não quero passar o resto dos meus dias entre corações partidos. Não quero que me partam mais o meu.
Mas de repente tenho medo, tenho muito medo. Vejo a minha vida a passar-me à frente e não a quero, não quero passar o resto dos meus dias entre corações partidos. Não quero que me partam mais o meu.
Mas a verdade é que esta não sou eu. Nunca tive medo de viver. Não é agora, na pequenez dos meus vinte e dois anos, só por achar que espreitei a infinidade de dores de cabeça que aí vêm, que vou passar a ter medo. E lá está, nos meus poucos anos e na minha pequena experiência, houve algo que percebi. Pode custar quando as coisas acabam, mas também sabe muito bem enquanto duram. Mesmo muito bem. E assim vale sempre a pena.
No fim sei sempre dar a volta. Sou sempre feliz. E hei-de tentar até ao fim.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
effusus #49
Quem me dera ser tudo isto ao mesmo tempo
Só isto, mas tudo isto
Tudo isto ao mesmo tempo.
Só isto, mas tudo isto
Tudo isto ao mesmo tempo.
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
demasiado amor - effusus #48
onde nos perdemos? foi no amor ou no medo? no tempo? onde me perdeste, meu amor? e porquê? não sei o que sinto. quando me apaixono teimo sempre em voltar-me a apaixonar, as vezes que forem precisas para ser feliz, pela mesma pessoa. apaixonei-me por ti demasiadas vezes. cultivei o meu amor durante demasiado tempo. quanto de mim mereces? quando de mim mereceste? e agora? quantas vezes no teu dia me lembras? nos lembras? és sempre tu, sempre. és sempre tu quem me tira o sono. és sempre tu quem me faz deslizar os dedos sobre as teclas. ainda gosto de ti. um bocadinho. ou um bocado. mas esse bocado será sempre aquilo que ficou de ti em mim, e nunca, mas mesmo nunca, deixará de fazer parte de mim.
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
that's what's up, effusus #47
Juntou as folhas, ordenou os cadernos, arrumou a secretária. As canetas, os lápis e as borrachas foram para a gaveta. Pôs os pensamentos de lado. "Estes ficam para depois", decidiu. Mesmo que tentasse - mesmo que quisesse - nesse dia não havia nada para escrever. Escapou-lhe um sorriso travesso. Mais um.
Nessa noite não havia nada para dizer. Estava feliz.
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
effusus #46
Os pirilampos são criaturas magníficas, desde que vistas a uma certa distância. Se te aproximares demasiado, não passam de repugnantes insectos que podiam ser facilmente esmagados não fosse pela luz que representam. Acontece contudo que por vezes gostas de um em particular e já não parece repugnante, é só adorável e teu. E portanto leva-lo contigo, dentro de ti, para onde quer que vás, e deixa-lo iluminar-te.
Desapareceu.
E agora estás na escuridão, e não há nada. Não há luzes para esmagar nem para levares contigo.
Arranquei o brilho dos olhos e fiz um mapa.
Ia conseguir sair dali.
Foi então que ouvi um bater de coração,
também estavas na escuridão.
Por isso fiquei contigo.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
effusus #45
Tive um presságio do infinito. se o tempo. como se o tempo me escapasse por entre as arestas polidas da minha memória. que diferença faria afinal?
ser um pedaço de nada entediado... qual seria a lógica?
sentei-me e escrevi.
consigo ainda respirar a eternidade das coisas imaterias e deliciar-me com o amparo das situações triviais. imundas mas deliciosas. tivera a saudade tantas razões como a necessidade...
ou mais ainda
muito mais ainda. cresceu medo nesta terra infértil. só a infertelidade pode produzir medo desta forma. suja.
mas onde e quando? quando chegaria afinal o meu embalo sofrido? qual seria o tempo e a época de colher os frutos
e talvez das flores
da minha ambiguidade?
tive medo. infértil seio de opcões, infértil motivação, infértil eu, eu infértil e sem mais nada para além do nada.
mas que nada? que nada?
não existe. a terra secou.
abracei a minha causa triste e sequei.
tentar conciliar o ser e o estar com o ser isto e aquilo e ignorar as certezas vãs das coincidências tristes. pudera eu tomar como certa a vida e deixaria de lado todas estas futilidades ignóbeis.
temo por mim. por não ter razão em nada e por precisar de tudo. por me agarrar a uma esperança e nela crer a minha salvação e a de toda a minha espécie.
Pergunto-me quando iremos acordar e quando iremos viver de facto. Quando deixaremos de lado o nosso ego para nos entregarmos à realidade de estarmos vivos e de não sermos escravos de nada senão da nossa consciência. Podíamos ser tanto e deixamo-nos ser nada. E porquê? Convenceram-nos a isto. A este enrolar e deturpar de alma. Pobres almas que somos, que caímos no engodo da razão.
mas existe. tudo existe. somos pó de estrelas que se convence diariamente que a vida não serve de nada e que o estar vivo pode ficar para depois.
tenho medo. e tenho amor. e de resto sou apenas terminações nervosas condenadas e extasiadas pela certeza plena da sua liberdade.
Nascemos para sermos felizes.
ser um pedaço de nada entediado... qual seria a lógica?
sentei-me e escrevi.
consigo ainda respirar a eternidade das coisas imaterias e deliciar-me com o amparo das situações triviais. imundas mas deliciosas. tivera a saudade tantas razões como a necessidade...
ou mais ainda
muito mais ainda. cresceu medo nesta terra infértil. só a infertelidade pode produzir medo desta forma. suja.
mas onde e quando? quando chegaria afinal o meu embalo sofrido? qual seria o tempo e a época de colher os frutos
e talvez das flores
da minha ambiguidade?
tive medo. infértil seio de opcões, infértil motivação, infértil eu, eu infértil e sem mais nada para além do nada.
mas que nada? que nada?
não existe. a terra secou.
abracei a minha causa triste e sequei.
tentar conciliar o ser e o estar com o ser isto e aquilo e ignorar as certezas vãs das coincidências tristes. pudera eu tomar como certa a vida e deixaria de lado todas estas futilidades ignóbeis.
temo por mim. por não ter razão em nada e por precisar de tudo. por me agarrar a uma esperança e nela crer a minha salvação e a de toda a minha espécie.
Pergunto-me quando iremos acordar e quando iremos viver de facto. Quando deixaremos de lado o nosso ego para nos entregarmos à realidade de estarmos vivos e de não sermos escravos de nada senão da nossa consciência. Podíamos ser tanto e deixamo-nos ser nada. E porquê? Convenceram-nos a isto. A este enrolar e deturpar de alma. Pobres almas que somos, que caímos no engodo da razão.
mas existe. tudo existe. somos pó de estrelas que se convence diariamente que a vida não serve de nada e que o estar vivo pode ficar para depois.
tenho medo. e tenho amor. e de resto sou apenas terminações nervosas condenadas e extasiadas pela certeza plena da sua liberdade.
Nascemos para sermos felizes.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
faço o que me apetece
Your heart is broken
And you don't seem to mind
I guess it happened
A little too many times, too many times
And you don't seem to mind
I guess it happened
A little too many times, too many times
Hoje fui eu que, ao olhar através da janela do carro, vi a lua e me lembrei de ti. Mas já não são tantas as coisas que me lembram de ti. Talvez porque eu não deixe. Talvez porque eu não queira. Acima de tudo tenho sempre de ser feliz. Acho que já não quero saber e só "faço o que me apetece".
Para ser sincera, acho que ambos sabemos que - passem semanas, meses ou anos - ninguém vai atrás de ninguém. Que o nosso tempo já foi. Mas, ainda assim, por muito que às vezes doa, por muito que "só faça pior", não me poderia nunca negar os pequenos prazeres da vida. E, naquela noite, por muito que soubesse que o amanhã ia ser diferente, quis estar contigo. Fazer de conta que estava tudo bem e que podíamos voltar a ser nós. Ali, num sítio que gritava saudade. Connosco a gritar saudade. Porque a verdade é que eu tenho saudades tuas. Tu tens saudades minhas. E assim estamos. Em eterna telepatia, como sempre.
Ficam as saudades. Podia-te escrever muito mais cartas, podia tentar escrever-te poemas, canções, sei lá. Ainda há muito que te podia dizer, que te quero dizer. Há coisas que só tu compreendes. Mas, naquela noite estranha de trovoada, consegui uma calma e uma paz que já não conhecia. Fiz tudo o que tinha de fazer. Disse tudo o que tinha de dizer. A bola agora está do teu lado. E há uma parte de mim que - contra todas as expetativas e rejeitando toda a lógica - vai ficar à tua espera.
Sabes, este tem sido um ano complicado. Saiu-me tudo ao lado. Houve muitas mudanças. Demasiadas até. E eu nunca soube lidar com mudanças. Não, este não está a ser o meu ano. Mas por muito difíceis que sejam os meus dias, tenho sabido reinventar-me. Respirar fundo, crescer mais um bocadinho a cada dia. Viver. Quando tudo falha, conto até três e recomeço. Arranjo sempre maneira, motivos, razões para continuar a sorrir.
Ficam as saudades. Podia-te escrever muito mais cartas, podia tentar escrever-te poemas, canções, sei lá. Ainda há muito que te podia dizer, que te quero dizer. Há coisas que só tu compreendes. Mas, naquela noite estranha de trovoada, consegui uma calma e uma paz que já não conhecia. Fiz tudo o que tinha de fazer. Disse tudo o que tinha de dizer. A bola agora está do teu lado. E há uma parte de mim que - contra todas as expetativas e rejeitando toda a lógica - vai ficar à tua espera.
Sabes, este tem sido um ano complicado. Saiu-me tudo ao lado. Houve muitas mudanças. Demasiadas até. E eu nunca soube lidar com mudanças. Não, este não está a ser o meu ano. Mas por muito difíceis que sejam os meus dias, tenho sabido reinventar-me. Respirar fundo, crescer mais um bocadinho a cada dia. Viver. Quando tudo falha, conto até três e recomeço. Arranjo sempre maneira, motivos, razões para continuar a sorrir.
E talvez, afinal de contas, este seja o meu ano.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
effusus #44
Daqui a dez dias parto rumo a lisboa e isto vai ficar tudo para trás.
Tudo.
Para trás.
(e ainda bem)
Tudo.
Para trás.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
effusus #43
Os ponteiros do relógio de parede marcam cinco horas da madrugada. Ao ritmo dos ponteiros metálicos, ouvem-se cinco badaladas sonantes e desesperadas. Cada dia que passa esta rotina se repete, sem pedir licença. Os pensamentos dela estão em constante rebelião e não para de dar voltas e voltas agarrando a almofada com toda a força acumulada. Um conjunto de trapos são a sua maior companhia, quem poderia adivinhar... Uma tempestade de pulsões não a deixa dormir. Todas as utopias quebradas são como fantasmas que a atormentam.
No fundo, ela só queria ouvir "O meu lugar és tu! Não vou embora".
E, nesse momento, adormeceria.
Tranquilamente.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
effusus #42 - da liberdade
Sei que venho cá com 11 dias de atraso, mas passei uma semana sem qualquer contacto com o mundo virtual e só agora consegui ter um bocadinho de tempo para o letras.
Não tenho muito a dizer, mas o que quero dizer está aqui http://www.precisavaescrever.com.br/vida-de-solteiro/.
Sinto isso tudo. Não me dou em relações, a vida é tão boa quando inesperada. Sem rotina, sem saber que tenho de reservar tempo para isto e aquilo. Tudo a seu tempo. Mas pra já, Eu.
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
effusus #41
A última carruagem
tardou em chegar. Decidi mais uma vez esperar até ao último instante para
apanhá-la, a coragem sempre me faltou para despedir-me de ti. Mas, consegui. E
é após este tempo mantida em silêncio, que debito um pouco sobre aquilo que
senti. É inevitável não doer quando existem despedidas como esta, mas a
aceitação e o tempo ajudam, cada vez mais me apercebo disso. A vida é mesmo
isso, repleta de chegadas e partidas, quem tem mesmo que ficar, fica.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
confissões endereçadas, effusus #40
Uma carta, já não sei há quanto tempo não escrevo uma carta. Só o faço quando sinto o coração pesado, sabes? Aprendi há muito tempo que as pessoas nem sempre têm a disposição ou o tempo necessários para ouvir. E portanto aprendi a ouvir-me. Esta seria uma carta para ti. Em resposta ao poema que me escreveste, ao poema em que me escreveste. Mas, infelizmente, as circunstâncias são mais uma vez traiçoeiras e o timing nunca é o certo. Assim, acho que esta vai ser mais uma carta de mim para mim. Com amor.
"É fácil esquecer-me que as coisas mudaram. Não é raro dar por mim a pensar que tenho de te contar isto ou aquilo, sejam pequenas vitórias pessoais ou as trivialidades do costume. Outras vezes apenas preciso de falar, apenas preciso que me ouças e me acalmes. Sempre soubeste o que se passava comigo só de olhar para mim. E acho que é disso que sinto falta, sobretudo. De ter alguém que repare, que note, que olhe para mim e me veja. Há coisas que me são difíceis de admitir. Já há bastante tempo que construí uma versão de mim que não precisa de ninguém, que aguenta e sobrevive a tudo e que não tem medo de nada. Uma versão melhorada e à prova de fogo, impossível de magoar. Há coisas que me são difíceis de admitir...
Preciso de ti.
"É fácil esquecer-me que as coisas mudaram. Não é raro dar por mim a pensar que tenho de te contar isto ou aquilo, sejam pequenas vitórias pessoais ou as trivialidades do costume. Outras vezes apenas preciso de falar, apenas preciso que me ouças e me acalmes. Sempre soubeste o que se passava comigo só de olhar para mim. E acho que é disso que sinto falta, sobretudo. De ter alguém que repare, que note, que olhe para mim e me veja. Há coisas que me são difíceis de admitir. Já há bastante tempo que construí uma versão de mim que não precisa de ninguém, que aguenta e sobrevive a tudo e que não tem medo de nada. Uma versão melhorada e à prova de fogo, impossível de magoar. Há coisas que me são difíceis de admitir...
Preciso de ti.
Tenho saudades dos sorrisos permanentes, das conversas tardias, da sensação de segurança. Às vezes é ridículo quão simples e boas as coisas podem ser se tivermos um pouco de coragem. Coragem para arriscar, para admitir o que era quase lógico, óbvio. E que eu se calhar não queria ver. Que se calhar não devia ter visto. Não era preciso mudar muito para que tudo estivesse exatamente igual. Para que tudo estivesse bem.
Tenho medo que seja este o fim.
E, no entanto, é preciso continuar. Quando dói um bocadinho mais, fecham-se os olhos, respira-se fundo e continua-se. Afasta-se o telemóvel, afastam-se as cartas, afasta-se o mundo. Ninguém precisa de saber o que se passa. Porque não se passa nada, está tudo bem. Está sempre tudo bem.
Sonho contigo todas as noites.
Disse-te que levas a vida demasiado a sério. Afinal de contas somos jovens, somos miúdos. Temos direito a errar, não é preciso fazer de tudo um bicho de sete cabeças. Daqui a uns anos, quem se irá lembrar disto? Aliás, esta carta não era para ser para ti, que não a podes ler. Esta carta é para mim. Portanto, Inês, não é preciso fazer de tudo um bicho de sete cabeças. Daqui a uns anos, quem se irá lembrar disto? Estás a levar a vida demasiado a sério. Pára!"
Recomeça.
E, no entanto, é preciso continuar. Quando dói um bocadinho mais, fecham-se os olhos, respira-se fundo e continua-se. Afasta-se o telemóvel, afastam-se as cartas, afasta-se o mundo. Ninguém precisa de saber o que se passa. Porque não se passa nada, está tudo bem. Está sempre tudo bem.
Sonho contigo todas as noites.
Disse-te que levas a vida demasiado a sério. Afinal de contas somos jovens, somos miúdos. Temos direito a errar, não é preciso fazer de tudo um bicho de sete cabeças. Daqui a uns anos, quem se irá lembrar disto? Aliás, esta carta não era para ser para ti, que não a podes ler. Esta carta é para mim. Portanto, Inês, não é preciso fazer de tudo um bicho de sete cabeças. Daqui a uns anos, quem se irá lembrar disto? Estás a levar a vida demasiado a sério. Pára!"
Recomeça.
domingo, 3 de agosto de 2014
effusus 39#
Cá dentro está tudo partido.
Cordas, fios, nós,
todos emaranhados,
unem os membros.
O ar é poluído e
não consigo
esvaziar os pulmões
o suficiente
para o libertar
Nos cantos
há lixo
que estala
quando me mexo
e nada está no lugar.
As limpezas
só pioram a situação.
Volta tudo ao mesmo,
demasiado depressa,
demasiado sentido.
Cada confusão,
sinto-a a cada passo,
a cada dia
de cada minuto.
Não faz mal.
quinta-feira, 31 de julho de 2014
Sobre a velhice: effusus #38
Sobre a velhice:
Um dia seremos todos velhos e, quando esse dia chegar só iremos ter saudades dos pais, dos avós, dos filhos, dos netos e daremos mais importância a isso do que à novela que dá na televisão, do que à doença que nos ataca o corpo, do que ao jogo do mundial, que ao politico que nos tira as miseras reformas. Só podemos ansiar que nunca nos ponham num lar. Pior que nos dizer nessa altura que não prestamos para nada e que somos apenas um fardo, pior será mesmo jogarem-nos contra uma cadeira de um lar pedindo-nos para que morramos por lá.
Isso seria arrancar de dentro de nós, o coração.
Pedro Miguel Mota
31/07/2014
quarta-feira, 23 de julho de 2014
Hoje, nos vinte minutos que me separam de algo a que já ousaram chamar trabalho, pensei em ti, em escrever-te, em dizer-te que o meu pai ainda guarda a carrinha que aos sete anos lhe prometeste comprar, em gritar-te por terem passado doze e não teres cumprido a promessa, chorei, por não entender a tua morte, por não entender uma carrinha parada há tanto tempo, por não gostar da esperança que me dá. Chorei a tua morte hoje.
Não chorei só a tua. Encontrei, nesse sitio que chamam trabalho, alguém a que chamaram de cadáver. Não acreditei. Vi, toquei, chamei. Não chorei. Lavei, vesti, atei as mãos, os pés, a cara. Tapei orifícios. Arranjei o cabelo, ajeitei a roupa. Mostrei o meu pesar à família, fechei a urna. Chorei ao ritmo daquelas pessoas que se despediram da mãe, da avó, que duma forma ou outra, ficaram órfãs, como tu foste.
Olho para a minha avó e tenho medo, tenho medo que a perca para o teu lado e para o desta minha senhora. Fala com quem manda no sitio onde estás, por favor, pede-lhe que não me tire a minha avó. Que não me tire mais ninguém.
Porque são dias.
Dias em que a morte se vê em todo o lado.
Dias em que abraço os meus com mais força e tolero o carinho que me dão.
Dias
de morte.
Dias em que não somos nada, como nos outros todos; apenas nos apercebemos disso, nos dias de morte.
Não chorei só a tua. Encontrei, nesse sitio que chamam trabalho, alguém a que chamaram de cadáver. Não acreditei. Vi, toquei, chamei. Não chorei. Lavei, vesti, atei as mãos, os pés, a cara. Tapei orifícios. Arranjei o cabelo, ajeitei a roupa. Mostrei o meu pesar à família, fechei a urna. Chorei ao ritmo daquelas pessoas que se despediram da mãe, da avó, que duma forma ou outra, ficaram órfãs, como tu foste.
Olho para a minha avó e tenho medo, tenho medo que a perca para o teu lado e para o desta minha senhora. Fala com quem manda no sitio onde estás, por favor, pede-lhe que não me tire a minha avó. Que não me tire mais ninguém.
Porque são dias.
Dias em que a morte se vê em todo o lado.
Dias em que abraço os meus com mais força e tolero o carinho que me dão.
Dias
de morte.
Dias em que não somos nada, como nos outros todos; apenas nos apercebemos disso, nos dias de morte.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
effusus #37
Eu odeio o ser e o estar,
Porque implicam ser isto e não aquilo,
Estar aqui e não ali
E toda eu desejo a omnipotência
E a omnipresença
O ser tudo e coisa nenhuma
O estar em todo o lado e em lado algum
O pertencer a todos e não pertencer a ninguém.
Quero o agora, o passado e o futuro
Quero a simultaneidade das coisas
E a eternidade das sensações remotas.
Não quero perder nem um grão de areia
Por preguiça de abrir os olhos
Ou por languidez dos sentidos
Ou por fatalidades da razão
Ou por meras paixões tépidas.
Não quero perder nem um grão de areia
Por algo que não valha um milhão deles,
Não enclausurados num pote
Mas sim dispersos, a flutuar
Nas galáxias mais distantes da nossa.
Ah! Estar viva e sabê-lo...
Porque implicam ser isto e não aquilo,
Estar aqui e não ali
E toda eu desejo a omnipotência
E a omnipresença
O ser tudo e coisa nenhuma
O estar em todo o lado e em lado algum
O pertencer a todos e não pertencer a ninguém.
Quero o agora, o passado e o futuro
Quero a simultaneidade das coisas
E a eternidade das sensações remotas.
Não quero perder nem um grão de areia
Por preguiça de abrir os olhos
Ou por languidez dos sentidos
Ou por fatalidades da razão
Ou por meras paixões tépidas.
Não quero perder nem um grão de areia
Por algo que não valha um milhão deles,
Não enclausurados num pote
Mas sim dispersos, a flutuar
Nas galáxias mais distantes da nossa.
Ah! Estar viva e sabê-lo...
effusus #36 - do passado
Agora navego por outros mares. Esperavas isto, não esperavas? Não tão cedo, eu sei. Mas só fazia sentido que esperasses. Não quero a tua tristeza (a forma como me deixo levar pelo deslizar dos dedos sobre as teclas ainda me quer fazer chamar-te 'meu amor', e até que ficava bem na frase). Não quero o teu olhar triste, como dizia Miguel Sousa Tavares: "Não, meu amor. Não quero ver o teu olhar triste e magoado que me acusa, sem defesa, que me condena, sem entender." Há muita, muita coisa que não te disse. Muita coisa que um dia ainda te direi. Não temas. Eu nunca temi estar ao teu lado. E ainda estaria, se pudesse. Nunca temi estar ao teu lado, sabes o que é isso? Não temermos o maior desafio que a vida alguma vez nos fez?
Choro-te. Choro a tua ausência, o teu afastamento. Choro a nossa separação. Porque sei, com todas as certezas que algum dia tive, que se a vida fosse fácil tínhamos atravessado o mundo, tínhamos ultrapassado todas as tempestades para podermos, para sempre, estar ao lado um do outro.
terça-feira, 15 de julho de 2014
effusus #35
Já
passaram três anos desde que parti rumo a uma nova aventura, longe da minha
cidade natal, mas com ela sempre no meu coração. Agora que paro para pensar um
pouco, apercebo-me mais uma vez do imenso role de momentos e recordações que
guardo cá dentro. É uma aventura que é impossível ficar-se indiferente e
quando se gosta daquilo que a vida nos proporcionou, tudo tem outro colorido.
Mesmo naqueles dias em que a tristeza nos assola fortemente, o simples saber
que a distância que nos separa daqueles que realmente amamos é meramente
física, esboça-se um sorriso. Porque acima de tudo, sabemos que eles acreditam
em nós e foram eles que também nos deixaram voar. Sabe bem chegar praticamente à etapa final e apesar de todo o cansaço que o corpo transparece, a face mostra contentamento,
porque sabe-se que valeu e vale a pena lutar por aquilo em que se acredita.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
das promessas
Foi uma noite difícil. Nunca é fácil aceitar que acabou, principalmente quando o problema não é a falta de sentimentos ou de vontades... Mas as circunstâncias, as estrelas, os outros. É, foi difícil. E por qualquer razão, no meio do desespero e da confusão, disseste baixinho "Não era suposto eu fazer isto". Puseste um joelho no chão, agarraste-me a mão e prometeste-me um futuro. Dez anos depois dessa noite.
E eu ri-me, ri-me porque já foram tantas os pedidos de casamento, tantas as promessas perdidas. No entanto, no manhã seguinte, quando o silêncio se apoderou da sala e eu não conseguia deixar de sentir a nossa história escapar pela fresta da janela, tal e qual uma corrente de ar, não me contive.
- Não faz mal, não faz mal porque isto não é o fim. Porque duas pessoas não podem fazer tanto sentido se não puderem ficar juntas. Portanto não é o fim, ainda vamos tentar outra vez. Um dia.
- Afinal és uma romântica - disseste-me.
É, acho que afinal sou.
domingo, 6 de julho de 2014
Decisões, escolhas e dores afins.
Sentes a tua pele abrir, dos pedaços de carne que estão agora separados por um rio de lagrimas vermelhas. Dói como nunca antes doeu, talvez seja por saberes que ou era desta ou era nunca. Podias ter ficado em standby, esperado mais uns tempos até dar resultado, mas a impaciência pela verdade levou a melhor. Podias ainda ter escolhido anestesia geral, mas gostas de sentir quando te tocam o coração. Mas desta vez, desta vez não sabe bem, não são festas de recuperação. São choques de morte.
sábado, 5 de julho de 2014
do inexplicável - effusus #34
Venha mais uma.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
effusus #33
Todas estas histórias em mim, onde as li? Perdi-as há tanto tempo que já nem sei quem eu sou, se a Noa se a Nana, se uma simples Ana. Não distingo as vidas das personagens das minhas, ou se serei uma personagem dentro de mim, ou melhor, dentro dela. Estou para aqui amontoada, a apanhar pó num canto, ou talvez num centro, já não sei. Não percebo nada desta mistura de pessoas e o coelho nunca mais aparece. Falo mas ninguém ouve. Ouço mas ninguém fala. Não sou mais do que uma praia no Inverno. Já te disse que ainda acredito em qualquer coisa? Não sei bem no quê, se em magia se na ilha, mas é tudo real aqui dentro. Só não sei onde as escondi.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
effusus #32
De vez em quando, bate assim uma saudade do que passou, do que ficou. De vez em quando, bate assim uma saudade do que sabemos que, inevitavelmente, não volta mais. Dói, não poder voltar atrás no tempo e reviver todos os momentos que nos fizeram bem. Revivê-los, fazer o tempo parar e pararmos, também nós, no tempo. Tornar os momentos eternos, quem sabe, se a eternidade dos sonhadores assim existir. Dói, voltar aos mesmos lugares de sempre e só restarem lembranças que nos preencheram a alma e nos tornaram grande parte do que somos.
E, no fim da viagem, a solução é mesmo deixar o pensamento parado, quieto e silencioso... não pensar, para não doer... ou, na pior das hipóteses, doer menos...
Querido passado, não voltes, fica bem onde estás!
domingo, 22 de junho de 2014
muito, meu amor
Quando é que ele chegou? Diz-me. Quando é que ele a viu pela primeira vez? Diz-me. Quando se abraçaram?
Quando é que isto começou?
Isto, o quê?
Isto.
O amor?
Sim, o amor.
O amor?
Sim, pode ser isso. Quando é que o amor começou?
Começou antes de ter começado. Um pouco antes. Nenhum deles soube quando começou. Só se sabe como é depois de já ter começado. Nem se sabe o que é, sabe-se só que já começou.
E depois?
E depois não acaba quando devia acabar. Dura mais tempo. O coração bate mais tempo. Não há maneira de parar o coração.
E então?
E então é assim. Não há muito que se possa fazer. É mais do que suficiente. Tem de se aguentar. Todo o tempo que durar. Sem nunca saber, do princípio ou do fim, pode-se esperar.
Pode-se esperar?
Sim. Pode-se esperar. Sem saber o que se espera. É esse o verdadeiro esperar. Ninguém pode adivinhar o que traz o amor.
Pode trazer tudo. O amor é isso tudo que se deve esperar.
Isso é ainda pior.
É. Não saber dizer o que é. Não haver palavras.
O amor não tem nome, forma ou cor. Vem quando quer. Vai quando não se espera que vá.
Não se deixa adivinhar. Ninguém tem mão no amor.
E então? O que é que tu queres saber?
Eu gostava de saber.
Eu também gostava de saber. Mas o que se sabe é muito pouco. Quase nada.
O amor não começa quando se quer, nem acaba quando se deseja. O amor é forte, destemido, indomável. Se não fosses tu, eu seria outro, dizem-se os amantes: eu quero viver na tua vida. Os amantes adivinham-se sem palavras, olham-se nos olhos à procura, fecham-se em quartos pequeninos. Perdem-se um no outro, agarram-se com toda a força dos dedos e dos braços, beijam-se sobre fundos abismos. O amor sempre mete muito medo. O medo de vir a faltar, depois de tudo ter prometido. Vai, mas não apanhes nenhum frio, e depois volta. Os amantes regressam quando a luz é pouca a um supremo egoísmo. Eu e tu e mais ninguém. O mundo pode desabar, o mar mudar de cor, a lua cair de repente. Só importa o brilho dos teus olhos e o sangue a bater nas minhas veias. Sabe-se lá o amor.
Fica quieto, não faças nada. Ama-me mais e mais, de dia e de noite. O mundo não precisa saber de nada disto.
Pedro Paixão
segunda-feira, 16 de junho de 2014
effusus #31
regar as plantas do jardim com água suja de beber
e beber a água suja de regar as plantas do jardim
não ser mais do que a poesia que habita pétalas
e os raios de sol que incidem na minha fronte espelhada
ser vida e negar o não ser nada
e beber a água suja de regar as plantas do jardim
não ser mais do que a poesia que habita pétalas
e os raios de sol que incidem na minha fronte espelhada
ser vida e negar o não ser nada
domingo, 15 de junho de 2014
effusus #30
Perco-me contigo. És boa energia. E o demais
desaparece como por arte de magia. É bom ter-te de volta, ver-te mais crescido,
mas igualmente ternurento e divertido. A tua simples voz faz-me soltar umas
belas risadas e o estômago por vezes dói de tanta felicidade, de tanta harmonia.
É um doer saudável e eu quero continuar a sentir-me assim, bem. Mesmo que o meu
mundo possa estar abatido, sei que com a tuas palavras algo melhora sempre. É
bom ter-te de novo comigo.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
do amor . effusus #29
tocas-me. arrepio-me. voltas a tocar-me e volto a arrepiar-me. beijas-me. beijas-me mais uma e outra vez. prometi que me queria afastar de ti, que ia terminar de vez com os nossos encontros. como posso? não posso. nem são propositados, pois não? olhas-me. como se resiste a um olhar desses? o cheiro do teu perfume, o jeito tão característico de como passas a tua mão pela minha, a forma como consegues cativar-me. quando é que isto vai acabar? deixas-me sempre com desejos de mais. podes parar? podes parar de me fazer amar-te? se soubeste fazer com que te amasse, também deverias saber fazer o contrário. e agora? vou viver de quê? de quem? da tua ausência, da falta do teu amor? vou viver como, sem ti?
Venham os raios de sol... effusus #28
Venham os raios de sol, venham os dias de praia, venham os dias deitados na areia, venham os dias deitados sobre a cama a descobertos de corpos nus envoltos em abraços e amores delicados ou excitantes. Por cada vez que fecho os olhos para sentir melhor o ar que te sai da boca e embate no meu peito sinto-me preenchido, como se tal momento me fizesse sentir que por muitos caminhos, bons ou maus, tivesse caminhado, cheguei ao ponto de sentir que valeram a pena as quedas, valeram a pena os empurrões e os choros, valeu a pena o choro do esforço, o rasgar da alma diversas vezes quando julgava que não conseguia dar mais de mim e com o ultimo fôlego conseguia dar mais um passo, subir mais um pedaço do poço. Valeu a pena o passado e por isso, que venham os dias de alegria, que venham os dias da felicidade contagiante, porque eu quero sentir-te melhor do que antes.
Aparece onde quer que estejas.
Aparece e eu poderei dar-te mais um sorriso, mais um mimo nessa barriga.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
dos começos - effusus #27
E, de repente, voltaram os quinze anos. Voltaram os sorrisos tímidos, escondidos pelo cabelo. Voltaram as conversas intermináveis, os beijos roubados, as mãos entrelaçadas. Voltaram os trinta-por-uma-linha por cinco minutos de alguém. Voltaram as pequenas loucuras, as pequenas surpresas. Voltou o calorzinho por dentro. Voltaram as borboletas - sim, essas que já julgava perdidas. Voltaram os apaixonados. Voltaram os meus quinze anos e o não querer saber o amanhã. E que bem que me sabe.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
carta a uma avó incansável. (effusus #26)
querida avó,
sempre encontrei abrigo na firmeza das tuas mãos e na ternura dos teus olhos.
o sorriso com que brindaste todos os meus passos foi para mim sempre uma certeza.
sempre soube que, por mais que crescesse, nunca deixaria de ser o teu menino.
o mesmo que seguraste nos braços tantas e tantas vezes. o mesmo com quem brincavas tardes inteiras. o mesmo a quem aturaste tantas birras e choradeiras. o mesmo que queria ir contigo aonde quer que fosses (e que tu sempre levavas). o mesmo que perdeu o tigrinho em paris e não descansou enquanto não o encontraste. o mesmo que perguntava em tom jocoso à campainha "é para a reunião?" sempre que reunias as tuas amigas lá em casa às quartas-feiras. o mesmo que usava as costas do teu sofá para fazer de barco. o mesmo que te tirava os bibelôs da exposição. o mesmo com quem passavas horas a contar estórias com os pedaços de fruta para que os comesse.
e tu sempre com o mesmo carinho, a mesma luz, a mesma dedicação.
sei bem que não partiste este domingo.
muito do que sou hoje foi talhado por ti. muito do que somos, na verdade.
eu, o rui, a catarina, o pai, o avô e a tia lena. e todos os outros em cujas vidas foste entrando.
e foram tantos.
sei que trarei sempre esculpido em mim o teu sorriso, e que continuarei a ouvir a tua voz a dar-me segurança.
"avó é duas vezes mãe", fartavas-te de me lembrar. mas foste mãe tantas vezes que lhe perdi a conta.
hoje sei que continuas a olhar por nós. sei que nos proteges e nos seguras.
e sei que sorris, porque é só assim que tu sabes olhar para nós!
gosto tanto de ti, avó!
um beijinho enorme do teu neto do meio,
nuno.
sempre encontrei abrigo na firmeza das tuas mãos e na ternura dos teus olhos.
o sorriso com que brindaste todos os meus passos foi para mim sempre uma certeza.
sempre soube que, por mais que crescesse, nunca deixaria de ser o teu menino.
o mesmo que seguraste nos braços tantas e tantas vezes. o mesmo com quem brincavas tardes inteiras. o mesmo a quem aturaste tantas birras e choradeiras. o mesmo que queria ir contigo aonde quer que fosses (e que tu sempre levavas). o mesmo que perdeu o tigrinho em paris e não descansou enquanto não o encontraste. o mesmo que perguntava em tom jocoso à campainha "é para a reunião?" sempre que reunias as tuas amigas lá em casa às quartas-feiras. o mesmo que usava as costas do teu sofá para fazer de barco. o mesmo que te tirava os bibelôs da exposição. o mesmo com quem passavas horas a contar estórias com os pedaços de fruta para que os comesse.
e tu sempre com o mesmo carinho, a mesma luz, a mesma dedicação.
sei bem que não partiste este domingo.
muito do que sou hoje foi talhado por ti. muito do que somos, na verdade.
eu, o rui, a catarina, o pai, o avô e a tia lena. e todos os outros em cujas vidas foste entrando.
e foram tantos.
sei que trarei sempre esculpido em mim o teu sorriso, e que continuarei a ouvir a tua voz a dar-me segurança.
"avó é duas vezes mãe", fartavas-te de me lembrar. mas foste mãe tantas vezes que lhe perdi a conta.
hoje sei que continuas a olhar por nós. sei que nos proteges e nos seguras.
e sei que sorris, porque é só assim que tu sabes olhar para nós!
gosto tanto de ti, avó!
um beijinho enorme do teu neto do meio,
nuno.
sexta-feira, 16 de maio de 2014
effusus #25
Olá lembras-te de mim sou um pedaço de qualquer coisa enraizado em coisa nenhuma e tenho saudades do passar das horas e do contar dos minutos e das coisas mundanas que os seres humanos tanto gostam e que eu não gosto assim tanto mas causam-me aquela melancolia de saber que não pertenço e só por isso sinto saudade
Saudade sim saudade essa que detesto por não ser minha quase tanto como detesto amar por esse amor não ser meu mas eu não detesto amar que tolice que parvoíce que estupidez é claro que eu não detesto amar como poderia ser como seria eu amo amar não amar não tem sentido nenhum
Amar pedras e estrelas e animais e a poeira que se vê quando o sol incide em ar estagnado e aquele pedacinho de pele na curvatura do pescoço naqueles ossos salientes beijar aqueles ossos salientes percorrer com a língua aqueles ossos salientes e a cova na base do pescoço a cova na base do pescoço
Poeira que percorre o céu cinzento e amar esse céu cinzento como quem ama aqueles ossos salientes e as mãos e as veias e os dedos endurecidos e gastos pela vida que tão mal os trata amar as mãos a parte mais humana do corpo humano amar as mãos de quem nos ama com as mãos.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
effusus #24, das lágrimas
"Desculpa, tu fizeste-me rir, mas ele faz-me chorar."
Fiz anos há pouco mais de uma semana. O costume, mensagens, telefonemas, abraços, beijinhos. Enfim, tudo aquilo a que se tem direito quando é o nosso dia. Era mais uma noite de queima, da minha última queima. Como em todos os outros dias, estava em casa, bem acompanhada claro, a preparar a mente para ir para o recinto. Mas algo abalou o meu coração. Uma mensagem. Bastou ver o remetente para correr a primeira lágrima, quando li a mensagem vieram muitas mais. Dei por mim a não conseguir parar. Respondi e apaguei a mensagem. Não adiantou, não parei de chorar. Nada adianta, parece-me. Quando penso que está tudo ultrapassado, acontece alguma coisa. Agora sei, N, que vai ser sempre assim. Que vou sempre gostar de ti, venha quem vier.
segunda-feira, 5 de maio de 2014
dos adeus - effusus #23
Os dias e as noites atropelam-se na pressa de chegar ao verão. Eu, pressa, não tenho nenhuma. Pela primeira vez a chegada da minha estação preferida implica um adeus. E um dos grandes. Tão grande que achei por bem adiá-lo. Por uns dias, por umas semanas, por um ano. Mas o relógio não parou e é chegada a altura do adeus. O derradeiro. O definitivo. O último. Vai ser difícil despir este quarto de mim, guardar as recordações em caixas e fazer as malas. Mas não se pode ser para sempre Peter Pan. Fica a certeza de que levo Coimbra comigo. E, felizmente, também a certeza que fica um pouco de mim em Coimbra. Nas ruas, nas tradições, nas pessoas. Eu, eu vou vestir pela última vez o nosso azul, pegar nas malas e preparar-me para a próxima estação. Até sempre.
sábado, 3 de maio de 2014
effusus 22#
Ela nunca fica muito tempo. Talvez não consiga, ou talvez não goste, ou nunca tenha encontrado uma razão para criar raízes. Veio numa tarde de primavera, ficou durante o verão e no outono já se começava a desprender, com o vento a puxá-la para longe de si, de mim e do mundo. E quando o inverno se instalou já não a encontrei. Não em mim, nem nela. Foi-se. É o curioso sobre os dentes de leão como ela, sabem, nem a si próprios estão agarrados.
quarta-feira, 23 de abril de 2014
effusus 21#
O tempo voa e eu, às vezes, gostava que ele parasse.
E que eu, também, parasse no tempo... para ter a certeza que alguns momentos podem durar para sempre...
... apesar de serem, apenas, lembranças.
terça-feira, 15 de abril de 2014
Volta - effusus #20
Quando menos se espera a vida dá as suas voltas e graças a isso saber que a luta não foi em vão, sabe tão bem. Após um considerável tempo o
céu deixou de estar cinzento e o magnífico sol volta a iluminar o meu caminho,
dando-me mais sentido. Não te peço absolutamente nada nem nunca o farei, tudo aquilo que ansiava
finalmente voltou aos meus dedos e entrelaçou-se com muita firmeza, parecendo-me que está para ficar. Sempre ouvi
dizer que “quem espera, sempre alcança”, pode tardar, mas tudo aquilo que nos
pertence, volta.
terça-feira, 8 de abril de 2014
effusus #19
08/04/2014
meu amor,
não tenho palavras.
dei-tas todas. durante o tempo que passei contigo. não me arrependo. só gostava que durasse para sempre.
"para sempre tua".
sábado, 5 de abril de 2014
dos finais - effusus # 18
Ontem tive de ser uma pessoa crescida. Pus todas as tuas coisas numa caixa e fui até à tua porta. Toquei à campainha, entrei no elevador que dantes tanto me assustava e encontrei-me contigo. Trocámos caixas de memórias e sentimentos como se nada fosse, assim como meia dúzia de palavras de circunstância. Fizemos de conta que somos pessoas crescidas e escondemos os eus que foram outrora um nós. E mais um adeus. Ao descer, confesso que por instantes quase me perdi. Foi apenas por um momento, mas não soube de mim. Olhei para cima e contive as lágrimas. Felizmente, o ar frio da noite devolveu-me a lucidez, devolveu-me a mim. E aí fui finalmente uma pessoa crescida. Cresci um bocadinho e voltei para casa, sozinha comigo.
quinta-feira, 3 de abril de 2014
effusus 17#
Muito bom dia.
Hoje faço anos.
Muito obrigada, até uma próxima.
(caso não tenham reparado, não há texto hoje - as minhas desculpas)
Hoje faço anos.
Muito obrigada, até uma próxima.
(caso não tenham reparado, não há texto hoje - as minhas desculpas)
terça-feira, 1 de abril de 2014
do delírio - effusus #16
vou passando entre as vielas que se desenham no centro da cidade. feixes de luz cinzentos invadem-me os olhos e encenam um nó na minha garganta. há qualquer coisa de grotesco nestes repentes titubeantes da natureza, como se só deles pudesse depender a claridade.
depois, o vulto. o eterno vulto imaginado, de arestas limadas pela revisitação dos dias. tu. entrego-me nessa volúpia frenética de te distinguir. o teu olhar. o teu sorriso. a tua boca. o teu perfume. as tuas mãos. as mesmas mãos que tantas vezes segurei por caminhos impenetráveis.
repito, sem querer, todos os pedaços de vida que partilhei contigo. as palavras, os gestos, as canções e os encantamentos. cada um é tão real como os feixes de luz cinzentos que me invadem os olhos e encenam um nó na minha garganta. então descanso. num silêncio quase perturbante, deixo esvair o corpo. ao reabrir os olhos, não dou com os teus vestígios.
a tua realidade pode ter sido sempre imaginada. mas neste final de tarde, ao relento, a tua ausência é tão real, tão absoluta, que em silêncio me escorre pelo rosto.
sábado, 15 de março de 2014
Recomeço - effusus #15
O
contentamento encontra-se em qualquer contexto da vida, onde se brinca, ama, canta, onde simplesmente a vida ganha um aroma mais característico e a chama do nosso coração aumenta
de intensidade. O momento é sempre singular e inigualável. Um corpo repleto de
amor, uma boca que entoa vocábulos cheios de certeza, porque sempre
que se abre o coração para os dias bons consegue-se deixar um pouco de lado as adversidades que às vezes tanto assolam o nosso quotidiano, a melancolia negra finda-se e todo o novo dia é nada mais
que uma nova e aprazível música para os nossos ouvidos. É bom saber recomeçar.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Perdida - Effusus #14
Fugo sem ti, e sem mim
por onde ande, a minha alma está ferida.
Nestes caminhos sem fim,
Sem ti, sinto-me perdida.
por onde ande, a minha alma está ferida.
Nestes caminhos sem fim,
Sem ti, sinto-me perdida.
quarta-feira, 12 de março de 2014
Terá primeiro de bater palmas - effusus #13
Saí da minha zona de conforto. Avisaram-me que a sensação não ia se agradável que ia cair e voltar a cair. Que o sangue iria jorrar dos meus lábios, das feridas que o meu corpo adquirisse como tempo, com os murros que a vida me desse, mas o mais importante era continuar-me a levantar, continuar a acordar cedo de manhã, pôr os meus pés na terra e sorrir para o sol, que todos os dias faz o sacrifício de me iluminar os caminhos que devo percorrer.
Depois de muito tempo pensar, cheguei à conclusão de que está na altura de mudar a minha vida, de voltar a respirar, porque se eu quiser ser bem sucedido, tenho de querer tanto ser o melhor, como tenho de querer respirar todos os dias.
Quanto tempo é "só mais um bocado"? Quando tempo demora o futuro a chegar? Preciso de fazer planos? Para todas estas perguntas, tenho apenas uma resposta. "Não sei". Não tenho medo de falhar, não posso ter medo de falhar, tenho os meus objectivos traçados e apenas preciso de tempo e, esse tenho que chegue para concretizar os meus sonhos. Só vou estar disponível no fim do ano, só vou dormir quando o que tiver por acabar estiver acabado. No fim poderei descansar, no fim poderei dizer que fui um tolo, um maluco, um esgrouviado da mioleira, mas até lá, só viverei para respirar e para concretizar os meus sonhos e, se com isso for preciso ficar desempregado e viver na rua, se para ser bem sucedido ter de primeiro sofrer bastante, então que sofra, porque eu quero o objectivo, eu quero cortar a fita da meta, quero rasgar os joelhos no chão quando gritar pela vitória, quero gritar com o fundo dos meus pulmões, as dores e as alucinações que tive durante a caminhada que me levou à meta.
Porque, se para ser melhor tenho de cair mil vezes, que caia duas mil, saberei que, ao falhar tantas vezes, saberei duas mil maneiras de me voltar a compor, de me voltar a levantar e a limpar as lágrimas do rosto, porque no fim, antes de a morte chegar, terá primeiro de bater palmas.
segunda-feira, 10 de março de 2014
das coisas que se foram, effusus #12
As altas horas da noite, alguns copos e um bom grupo de amigos são sempre meio caminho andado para conversas mais, digamos, profundas. E eis que me vejo sempre do lado dos descrentes, dos que não têm qualquer tipo de fé em coisa nenhuma. Porquê? Vejamos...
Deixei de acreditar em deus (sim, nem à maiúscula acho que tenha direito) ainda pequenina. A minha irmã tinha um amigo imaginário, o Humberto. Demorei algum tempo a perceber que os adultos também tinham um amigo imaginário, esse muito mais grandioso e magnífico mas na sua essência igual - invisível, inexistente, imaginário. Deixei de acreditar na esperança, embora já mais tarde. Depois de mais de um mês agarrada ao telefone, à espera de novidades de quem estava agarrado a uma cama de hospital, o nada. E por muita esperança que houvesse, por muitos desejos de melhoras, foi-se um alguém sem nunca ter oportunidade de dizer adeus. Deixei de acreditar em sempres aos dezoito anos. Foram muitas as juras e as promessas, os 'nada vai mudar'. E de repente era como se não tivéssemos crescido todos juntos, como se não se tivesse passado uma vida. De repente éramos estranhos. Não houve sempre que nos valesse. Deixei de acreditar no amor também. Não sei o quando, não sei o porquê, não sei se alguma vez acreditei. Acho que duas pessoas podem ser felizes juntas, mas tudo o resto é demasiado utópico, demasiado fantasioso, demasiado mentira.
E mesmo assim sou feliz. Acredito em quê? Em nada. Em tudo. Em mim. Nos outros. Nas pequenas coisas. Nos finais felizes de todos os dias.
sábado, 8 de março de 2014
da dor- effusus #11
Da dor,
tenho 20 anos. Tenho 20 anos e se calhar nem sei o que é essa 'coisa' do amor. Ou, pelo menos, muitas vezes preferia nem saber. Mas tu dóis-me. Dóis-me de cada vez que me lembro, dóis-me pela ausência, dóis-me pelo teu, tantas e tantas vezes, inacreditável desinteresse. Dóis-me por não me contares nada, porque não consigo confiar assim. Desculpa. Tu dóis-me, dóis-me muito. E se calhar o amor é esta dor enorme que sinto. Há mais de um ano, quando ainda nos dávamos a conhecer um ou outro, lentamente, com toda a magia que a descoberta implica, tu reparaste numa frase ("Desculpa, tu fizeste-me rir, mas ele faz-me chorar"), e na tua inocência de homem crescido perguntaste-me se tinha sido eu a escrever... Não fui. Mas podia ter sido. E, neste momento, podia dirigi-la a alguém, sabendo que és tu, meu amor, meu grande amor, que me fazes chorar. Não por fora. Mas por dentro. Por onde sempre me cativaste. Onde estás agora? A viver a tua vida, sem sequer te lembrares de mim? O que fizeste comigo? Penso em ti. Penso muito. Penso sempre. Sempre, sempre, sempre.
quarta-feira, 5 de março de 2014
uma criança - effusus #10
sentado na soleira de uma porta qualquer, encostara a cabeça à parede. estava exausto. não que o meu movimento, quase umbrático, me atormentasse o corpo. mas estava exausto. talvez fosse do sol ou do desgaste que levavam os sonhos. talvez daquele fiozinho de luz mais tórrida que prenunciava o final do dia. talvez de vaguear há dias pelas ruas, sem destino.
sem vontade de fechar os olhos, fixei-os numa criança que brincava a poucos metros dali. esperava com uma impaciência um tanto ou quanto comedida, que duas senhoras terminassem uma já longa conversa. em pequenos saltos, trocava os pés entre a calçada, enquanto o cabelo se lhe desgrenhava e os olhos riam calados, mais alto do que toda a azáfama que se fazia ouvir.
alguma coisa no sorriso entediado daquela criança despertava um outro, bem mais áspero e sem-sabor, na minha face. talvez tenha sido por isso, ou talvez pela sequência que impunham as pedras da calçada na sua brincadeira, que ela se foi aproximando de mim.
como se os sonhos que um dia eu também sonhara não tivessem ainda ganhado bolor. como se a infância fosse ainda do presente, como se me soprassem os calos das mãos e eu reaprendesse a sorrir.
decerto inquieta por ver a criança tão perto de mim, sem-abrigo imundo e lúgubre, a senhora que a acompanhava chamou-a com voz repreensiva.
e a realidade voltou a apoderar-se do meu rosto, num repente de melancolia.
sem vontade de fechar os olhos, fixei-os numa criança que brincava a poucos metros dali. esperava com uma impaciência um tanto ou quanto comedida, que duas senhoras terminassem uma já longa conversa. em pequenos saltos, trocava os pés entre a calçada, enquanto o cabelo se lhe desgrenhava e os olhos riam calados, mais alto do que toda a azáfama que se fazia ouvir.
alguma coisa no sorriso entediado daquela criança despertava um outro, bem mais áspero e sem-sabor, na minha face. talvez tenha sido por isso, ou talvez pela sequência que impunham as pedras da calçada na sua brincadeira, que ela se foi aproximando de mim.
como se os sonhos que um dia eu também sonhara não tivessem ainda ganhado bolor. como se a infância fosse ainda do presente, como se me soprassem os calos das mãos e eu reaprendesse a sorrir.
decerto inquieta por ver a criança tão perto de mim, sem-abrigo imundo e lúgubre, a senhora que a acompanhava chamou-a com voz repreensiva.
e a realidade voltou a apoderar-se do meu rosto, num repente de melancolia.
terça-feira, 4 de março de 2014
#conversas
- Estás apaixonada por alguém?
(abano a cabeça como forma de dizer que sim)
- Quem é ele? É de Braga? De Vila Real? Anda na UTAD? É do teu curso?
Não. Não é tão fácil assim.
- Então? É o cabrão que te fez sofrer? Sim, eu sei que sofreste uma desilusão há pouco tempo.
Não, também Não.
- Então deixa-me fazer-te feliz. Eu consigo. Tu és a mulher da minha vida e eu quero fazer-te muito feliz. Juro que faço.
«Não. Eu não duvido disso, mas tu não podes. Ninguém pode. Ninguém pode senão ele.»
segunda-feira, 3 de março de 2014
effusus #9
As ondas engoliam as rochas, e os pássaros voavam em círculos à procura de peixe. Ocasionalmente mergulhavam para depois voltar à superfície com o que haviam apanhado no bico. As árvores ondulavam ao vento, a primeira brisa de primavera. Ela estendia-se encostada a uma cerejeira, acompanhada apenas pelos seus pensamentos e um bom livro.
Até que alguém abriu o ralo e tudo começou a ser arrastado para os céus. Primeiro foram as nuvens, depois os pássaros, que batiam as asas desesperadamente numa tentativa fútil de se salvar. As folhas cederam logo, e depois troncos foram arrancados e sugados.
E ela deixou-se ir.
Seguida de um fio vermelho que parecia nunca terminar, até que o puxou a ele.
E ali, naquele lugar desfeito, fizeram-se amantes, almas-gémeas para sempre ligados através do fio vermelho que une os destinos daqueles que pertencem juntos.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Um, dois, três, vou nascer outra vez.
Eu acho que é assim. Dói muito e custa e é feio e mau. Ficamos tristes e queremos hibernar, desaparecer, esquecer. Mas devagarinho vamos deixando a dor e o rancor para trás. E quando o coração está curado e nos distraímos, pumba, lá vem um novo amor. E que bom que é. Renascer.
domingo, 23 de fevereiro de 2014
desapego - effusus #8
Cada um aceita o amor que acha que merece.
Ao escutar esta simples frase, dentro de mim, gerou-se uma confusão, como se naquelas palavras estivessem somados todos os dias dos últimos meses. Sem conseguir controlar, despertou-se, em mim, uma sensação dolorosa de não querer aceitar o que a realidade, há muito, teimava em mostrar.
Contudo, naquele momento, abriu-se uma porta que me fez ver que há coisas que, impreterivelmente, passe o tempo que passar, não vão mudar. Há um tempo em que um ombro amigo já não chega e precisamos de um braço inteiro. Há um tempo em que as palavras deixam de fazer sentido e a falta de ações ganha uma importância fatal. Há um tempo em que é preciso parar de insistir no que não tem futuro, o mais difícil de saber é como o fazer.
E, há um tempo, em que o silêncio passa a ser a maior arma de defesa. Silêncio. Silêncio. Agora sei que sentes a minha falta, mas não será demasiado tarde? Silêncio. Silêncio. O mais importante ficou dito quando permanecias aqui. Agora, nada mais do que silêncio. Até ao dia em que, finalmente, encontrar o que me faz bem e me livrar de ti.
Até lá, tento não lembrar as memórias de quando te sentia em mim e encontrar milhares de silêncios teus que justifiquem a minha ausência em ti.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Bem-querer - effusus #7
As
palavras têm muito poder, entrega-se a elas sentimentos implicando pensar
novamente nos momentos que foram vividos. Neste preciso instante recorro às palavras para iniciar um novo rumo aqui e nada melhor do que falar um pouco de ti e da nossa amizade. Há muito tempo que
precisava desafogar-me sobre aquilo que tenho recebido da tua parte e tudo aquilo
que te tenho dado ao longo destes anos. Posso estar umas semanas sem falar
contigo e é sem aparente explicação que sinto uma vontade incessante de ter-te por
perto, contar-te todas as minhas peripécias e ouvir tudo aquilo que tens sempre
para dizer-me. Na realidade tu estás sempre por perto, no meu coração.
Sinto-me sã e salva contigo, porque és uma das pessoas que posso realmente
confiar e isso ultimamente é muito raro de encontrar, tens o dom de
entender-me na perfeição, respeitando os meus defeitos e apreciando as minhas qualidades, tal como eu te respeito a ti. És um dos fogos que reacende o meu coração nas noites de
tempestade e o ombro amigo que está sempre lá.
“A amizade é um amor que nunca morre”
“A amizade é um amor que nunca morre”
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Amor - effusus #6
Uma flor basta para simbolizar uma estação do ano. Uma data basta para evocar uma época….quantos preceitos e axiomas dogmáticos são necessários para exprimirem o amor?
Sob o nome genérico de amor, quantas variedades do instinto? Quantas explosões de temperamento? Quantas satisfações de vaidade?
Existem mil formas de o exprimir, mil formas de o sentir. O amor não é apenas um impulso do instinto, é uma ciência da alma, a mais divina e a mais rara. É como se o amor fosse uma iniciação lenta, pela qual a alma se eleva à contemplação do mais puro infinito.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Se continuo ou se largo - effusus #5
Silêncio, é do silêncio do mundo que eu preciso, é do silêncio da vida que preciso, que quero sentir. Estou cansado de viver a correr, preciso de uma pausa, preciso de tirar as preocupações da cabeça, de deixar a mão à vida, deixar de lhe dar colo, fazer com que comece a andar por ela própria, pois fiquei cansado de ter de lhe dar apoio. Preciso de viver, preciso de sentir e com ela como fardo não conseguirei andar para a frente.
Não sei o que faço. Se continuo com ela ao colo e faço a minha vida, ou se a largo e me faço ao caminho.
sábado, 8 de fevereiro de 2014
por em palavras o que a mente detém - effusus #4
«Do amor,
Um gole. Dois. Três. Quatro. Ah, este vinho. Bendita promoção. Visão turva. Noção das coisas - total. Cinco. Seis. «Isto está lindo, está». Saudades disto. Mas calma! Ainda não veio ao de cima o meu lado sentimental. Porque é que temos de ter um? A vida era tão mais simples sem ele.
Sete. Oito. Pensamentos - todos canalizados para a mesma coisa. A mesma pessoa. O álcool não engana, não me venham com tretas. Alguém se descai. Não sei como nem porquê. Que raios. Agora é que vão ser elas. «Ok, postura!». Não, tarde demais. Pronto, vamos lá falar sobre o assunto.
As perguntas surgem de todos os lados, atropelam-se. Não consigo responder a tudo. E nem quero. É demasiado complicado. Eles não sentem, não entendem. Se calhar até me julgam. Não parece. Apoiam-me!? Serão meus amigos de verdade? Saberão eles o que passo, a dor que sinto por saber das circunstâncias, por pensar nas circunstâncias. Já não me envergonho. Como poderia? Gosto dele. Não nego isso perante eles. Afirmo e reafirmo. Olham-me. Não sei se com pena ou admiração. Ou então perguntam a eles próprios se estarei louca. Não, meus amigos. Seria preferível? Estou apaixonada. Será mais grave? Sempre achei que sim.
A conversa prolonga-se, alonga-se. Todos procuram perceber porquê. Nem eu sei. Apesar de tudo, eu gosto. Gosto das coisas assim. Um pouco ou nada secretas. Surpreendentes. O vinho desaparece, à velocidade da luz. A noção das coisas começa a escapar-nos. E eu começo a ser ainda mais e mais sentimental.
Quem me dera. O que eu dava.... O que eu dava para o ter agora aqui. A beber este copo comigo, sei lá. Desde que o tivesse. Não tenho. Alguma vez o tive? Perguntas, outra vez. Não quero perguntas. Deixem-me falar. Deixem-me dizer que quero percorrer o mundo com ele. Só nós os dois. Sem os preconceitos patetas de quem não sabe que o que eu sinto não é menos, se calhar até é mais, do que o que sentem os jovens casais apaixonados e namorados. Parece parvo. E é. Adiante. Passo a noite a falar dele, a pensar nele. Abano ligeiramente a cabeça, o álcool está no auge do seu efeito. Nem assim. Eu aqui. Ele lá. Tantos quilómetros de distância e saber que já estivemos tão perto. Calma, amanhã ficará tudo bem melhor. Ou não. Os pensamentos continuam os mesmos. Sonhos. Planos. Tanta vontade de tudo e de tanto. Tanto dele comigo e em mim. Se pelo menos eu pensasse nisto só quando estou sobre o efeito do álcool. Se. Malditos se's. Gosto dele. Repito. Eles ouvem. Brindam comigo. Porque querem a minha felicidade. E a minha felicidade é, em parte, ele. Eu sei-o. Se fosse tão fácil assim.
Garrafas vazias, copos também. Mentes conscientes e inconscientes. Conscientes no amor. Do amor.
Amanhã é outro dia, pode ser que já não se lembrem de nada.»
Quem me dera. O que eu dava.... O que eu dava para o ter agora aqui. A beber este copo comigo, sei lá. Desde que o tivesse. Não tenho. Alguma vez o tive? Perguntas, outra vez. Não quero perguntas. Deixem-me falar. Deixem-me dizer que quero percorrer o mundo com ele. Só nós os dois. Sem os preconceitos patetas de quem não sabe que o que eu sinto não é menos, se calhar até é mais, do que o que sentem os jovens casais apaixonados e namorados. Parece parvo. E é. Adiante. Passo a noite a falar dele, a pensar nele. Abano ligeiramente a cabeça, o álcool está no auge do seu efeito. Nem assim. Eu aqui. Ele lá. Tantos quilómetros de distância e saber que já estivemos tão perto. Calma, amanhã ficará tudo bem melhor. Ou não. Os pensamentos continuam os mesmos. Sonhos. Planos. Tanta vontade de tudo e de tanto. Tanto dele comigo e em mim. Se pelo menos eu pensasse nisto só quando estou sobre o efeito do álcool. Se. Malditos se's. Gosto dele. Repito. Eles ouvem. Brindam comigo. Porque querem a minha felicidade. E a minha felicidade é, em parte, ele. Eu sei-o. Se fosse tão fácil assim.
Garrafas vazias, copos também. Mentes conscientes e inconscientes. Conscientes no amor. Do amor.
Amanhã é outro dia, pode ser que já não se lembrem de nada.»
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
eu vírgula feliz ponto - effusus #3
Calha-me a mim hoje. Sim, hoje sou eu que devo deixar aqui o meu effusus. O meu lado instável, desgrenhado, vasto. Derramado. Escolhi este dia e ri-me comigo. É o nosso dia, pensei. Agora já não. Agora este dia não é de ninguém, é apenas uma lembrança de que apenas os fins são certos. E, no entanto, não há nada de instável, desgrenhado ou vasto em mim. Nem tão pouco derramado. Só há eu. Tanto eu quanto seja possível. Muito mais eu do que alguma vez pensei ser possível. Eu vírgula feliz ponto. E no meio de tantos fins, confesso que há poucas coisas de que me orgulho, que me aquecem por dentro, que me fazem sentir eu. Lembro-me da minha madrinha me dizer, por entre capas, canções e lágrimas
- Tu foste e és Coimbra
E fui. E sou. Todos os dias desde que esta cidade me acolheu, sem querer saber os meus ontens, todos os dias desde que a minha casa deixou de me bastar. É certo que não sou já a mesma que aqui chegou há quase quatro anos, carregada de malas e sonhos. É difícil crescer. Não fosse o azul escuro e não o teria conseguido. Morreram esperanças e devaneios de infância, sonhos ingénuos e sem futuro. E mesmo sabendo que tudo tem um prazo de validade, há coisas que acabam por ficar entranhadas cá dentro, talvez até para sempre. Afinal de contas,
- És Coimbra
Ainda assim, sei que um dia terei de refazer as malas, forçar as antigas memórias e os novos sonhos dentro delas. Direi adeus à cidade, a tal da saudade, e despedir-me-ei com um beijo. De boa noite, bom dia, bom fim. Bom recomeço. Um dia terei de dizer Calha-me a mim hoje. Eu vírgula feliz ponto.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
effusus #2
Há vontade, ela tem-na. Ali, no bolso do casaco. Esqueceu-se de que a tinha guardado lá. Ou esqueceu ou decidiu não lhe mexer mais, pelo menos por agora. Caminha lentamente, cabeça baixa, ombros para trás, e um fio de cabelo sempre a cair-lhe do apanhado. É Inverno, as árvores estão nuas e o nariz gelado. O céu, cinzento, ameaça chuva. Nela já chove há algum tempo. Não o suficiente, parece-lhe. E ao mesmo tempo, quer voar. Mas o vento é demasiado forte e ela ainda não tem asas. Se, por um momento, pusesse a mão no bolso, a vontade tocar-lhe-ia os dedos e espalhar-se-ia por todo o seu corpo. E o sol virá, se ela o chamar.
sábado, 1 de fevereiro de 2014
alguém me observava constantemente da janela - effusus #1
era noite e vagueava. por entre rasgos de sombra, tinha a impressão de que alguém me observava constantemente da janela. tinha sempre essa impressão quando vagueava pela noite. fosse qual fosse a rua, a sombra e o odor.
envergonhado, talvez, pela atenção, disputava com a escuridão um lugar à sombra, que se desenhava como um esquisso de manchas, deambulando pelo chão e pelas paredes. é tarde, enzonavam as coisas, já devias estar em casa. e eu pensava que elas falavam de mim, sem saberem que não tinha casa. enquanto alguém me observava constantemente da janela.
escondia-me por detrás de dois caixotes e cobria-me com o pano velho que encontrara no lixo. adormecia sempre ali, sob o olhar inócuo de alguém que me observava constantemente da janela.
dormindo, era eu próprio, de volta a casa, em criança, olhando constantemente da janela, sonhava ser astronauta. sorria, como se o sonho fosse a concretização dele próprio, e olhava com desalento um sem-abrigo, vagueando pela noite e entre as sombras. eventualmente, acordava. desolado. que o sono era o meu único refúgio de um mundo que me afastara da infância. e alguém me observava constantemente da janela.
nunca cheguei a saber quem era, nem qual a janela de onde me via. nunca cheguei a saber se tinha nome ou idade. nunca cheguei a saber o que fazia do outro lado da janela. mas havia um desconsolo no seu olhar, por ser o meu, quando olhava demoradamente as estrelas.
e havia alguém que me observava constantemente da janela. e era sempre o mesmo alguém, sempre da mesma janela.
sentia pena de mim, sonhava ser astronauta.
envergonhado, talvez, pela atenção, disputava com a escuridão um lugar à sombra, que se desenhava como um esquisso de manchas, deambulando pelo chão e pelas paredes. é tarde, enzonavam as coisas, já devias estar em casa. e eu pensava que elas falavam de mim, sem saberem que não tinha casa. enquanto alguém me observava constantemente da janela.
escondia-me por detrás de dois caixotes e cobria-me com o pano velho que encontrara no lixo. adormecia sempre ali, sob o olhar inócuo de alguém que me observava constantemente da janela.
dormindo, era eu próprio, de volta a casa, em criança, olhando constantemente da janela, sonhava ser astronauta. sorria, como se o sonho fosse a concretização dele próprio, e olhava com desalento um sem-abrigo, vagueando pela noite e entre as sombras. eventualmente, acordava. desolado. que o sono era o meu único refúgio de um mundo que me afastara da infância. e alguém me observava constantemente da janela.
nunca cheguei a saber quem era, nem qual a janela de onde me via. nunca cheguei a saber se tinha nome ou idade. nunca cheguei a saber o que fazia do outro lado da janela. mas havia um desconsolo no seu olhar, por ser o meu, quando olhava demoradamente as estrelas.
e havia alguém que me observava constantemente da janela. e era sempre o mesmo alguém, sempre da mesma janela.
sentia pena de mim, sonhava ser astronauta.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
O mar não devia acalmar ninguém. É violência, embate após embate, quebras violentas, força degolando o que é nosso, e tudo é amor. Até o sabor dos teus beijos molhados se torna cor-de-rosa quando o mundo gira para o lado desconhecido, por cima de muralhas da china e taças de cereais inacabadas. Inacabadas porque roemos e trincamos a vida toda, mas ficamos sempre a metade. Há sempre uma cadeira vazia, um suspiro sonoro, um eco vazio, alguém que nos deixa só a sua falta fria. Não há ninguém. Há quanto tempo não há gente no teu mundo?
Subscrever:
Mensagens (Atom)